sábado, 14 de dezembro de 2013

Luta pela terra marca as discussões da plenária de sábado

A plenária da noite de sábado, 14, iniciou com a consagração e a dança do toré puxada pelos indígenas Pataxó Rã Rã Rãe. Em seguida, TC Silva, da Casa de Cultura Tainã, homenageou Joelson Ferreira (Terra Vista) e o cacique pataxó Nailtom com mudas de baobá, árvore africana que é símbolo da Rede Mocambos e instrumento do projeto Rota dos Baobás, que leva mudas e trabalha a comunicação livre em comunidades quilombolas. Com toda a plenária, TC puxou em coro o canto africano: “Tô voltando pra casa com um pé de baobá, tô voltando pra casa com um baobá”.


“O baobá é um dos símbolos internacionais da resistência e da união dos povos. Vamos plantar baobá pra marcar nosso território”, comentou Jorge Rasta, da Casa dos Bonecos. Em agradecimento, o cacique pataxó Nailtom chamou atenção para o cuidados com as florestas, em especial a Amazônia, e com a educação ecológica das crianças. Citou também as ameaças que as lideranças de resistência, como indígenas, assentados e quilombolas, têm sofrido. “Eles querem ver a gente cair, mas já foi descoberto que com união ninguém derruba a gente não. Vocês jovens são nossos guerreiros de amanhã”.

A indígena Pataxó Rã Rã Rãe Dona Maria comentou a importância da organização entre os movimentos de luta e da firmeza que a militância precisa manter diante das ameaças: “O abraço apertado é uma fortaleza. Nós pequenos é quem temos que nos organizar e se preparar para um caminhar firme. Essa luta é de todos nós. Esse assentamento aqui, por exemplo, é de todos vocês. Sabemos que os guerreiros sempre são mal vistos, mas a luta é assim”. Depois, puxou um canto indígena de força para espantar as más energias e chamar a paz para a II Jornada de Agroecologia da Bahia.


Iniciando as falas da mesa da Plenária, a estudante Fernanda, do Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias, focou em sua fala as práticas agroecológicas realizadas pelos camponeses e lembrou a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, puxada pela Via Campesina. Citou também a opressão sofrida pelas mulheres no agronegócio, que, segundo ela, condiciona a divisão de gênero do trabalho: “Espero que nosso exército cresça e leve a agroecologia para as universidades, para as escolas públicas e privadas”.

Dayane, do Grupo de Ação Interdisciplinar em Agroecologia (Gaia), comentou sobre a formação do grupo, que surgiu como inicativa de estudantes da Universidade Federal do Recôncavo Baiano. “Nossa universidade, como todas, carrega as suas contradições. Percebendo que ela não estava servindo ao povo, a gente se uniu pra tentar levar pra universidade um debate além do que eles passam pra gente. Nós nos negamos a ser profissionais que reafirmam a política de opressão contra o povo do campo”.


O mediador da mesa, Diego Cogu, do NEPPA, comentou: “A agroecologia é uma questão de vida ou morte, ou a gente entra pra ela e constrói um novo modelo de desenvolvimento ou não haverá humanidade daqui a alguns anos”. Calango, do Movimento de Luta pela Terra (MLT), falou um pouco sobre a história do movimento, que surgiu na região cacaueira de Itabuna, e também defendeu a agroecologia como ferramenta para auxiliar as futuras gerações: “Nosso movimento busca se refazer sabendo que sem agroecologia e sem o desenvolvimento sustentável não haverá avanço na reforma agrária de forma qualitativa, que é como a gente quer”.

A última fala da Plenária de sábado começou simples e direta: “Quero dizer pra vocês que eu sou preto, mas sou livre”, exaltou Elder, do Ecobahia. Que seguiu com uma forte crítica ao Estado e às universidades que ignoram ações coletivas e sociais, principalmente na área de Agroecologia. “Não cabe mais no mundo de hoje as conquistas individuais. As conquistas individuais não mudam o mundo. Vocês que estão na academia tem que pensar nisso”.

Elder, assim como várias falas da mesa, também lembrou a resistência do Cacique Babau, que luta há anos pela retomada de terras dos indígenas tupinambá, mesmo sofrendo opressão do Estado e dos fazendeiros latinfundiários. “Nós todos temos falhas e problemas, mas nosso maior problema é ajoelhar e cruzar os braços", finalizou Elder. 

Manual de Certificação Orgânica

A Associação Certificadora de Áreas, Defesa do Meio Ambiente e Produtores Orgânicos da Bahia (ACPOBA) realizou durante a II Jornada a Oficina de Certificação Participativa para produtos da Agricultura Familiar, mediada pelo presidente da associação, Edilson Silva.

Como forma de contribuir ainda mais para as articulações, a ACPOBA disponibilizou  o Manual de Certificação, com "normas e procedimentos para o padrão de qualidade orgânico. Compartilhem!


Clique aqui e acesse o Manual. 
 

Para saber mais sobre a ACPOBA, acesse: acpobaorganico.blogspot.com.br.

Plenárias reúnem pautas e discussões sobre agroecologia e movimentos sociais

As discussões coletivas da II Jornada de Agroecologia da Bahia iniciaram no primeiro dia do evento, quinta-feira (12), com as salas de diálogo temáticas. A partir dos encaminhamentos e das reuniões diárias entre os participantes, as discussões seguem e se consolidam nas plenárias, realizadas pela manhã e nos fins de tarde de cada dia da jornada. É um momento de ouvir e compartilhar ideias e pensamentos para o fortalecimento das redes entre os povos e grupos que lutam e constroem um novo modo de desenvolvimento: sustentável, coletivo, colaborativo, solidário, agroecológico, autônomo e livre.


Antes das plenárias,os cortejos, cirandas, danças circulares e torés da etnia indígena Pataxó Rã Rã Rãe abrem o caminho e limpam as energias para o prosseguimento da troca de saberes que emana nas discussões. A plenária da tarde de sexta-feira, 13, trouxe para a II Jornada a importância da apropriação popular sobre os meios de comunicação e tecnologias sociais, entendo a ligação direta da comunicação com a agroecologia e com a luta pela terra. Abaixo, algumas das falas que marcaram a mesa da plenária de sexta-feira.

A estudante de agronomia Quênia Barreto, do Grupo de Ação Interdisciplinar em Agroecologia (GAIA – UFRB), destacou a formação da Brigada de Audiovisual/Comunicação, que desde a I Jornada trabalha para divulgar as ações realizadas pelo evento e pela Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica. “Queremos levar o que acontece aqui para o mundo, sempre pensando na união e na elevação dos saberes trocados. E quem quiser, pode vir se integrar à Brigada também”.


A fala de TC Silva, da Rede Mocambos/Casa de Cultura Tainã, levantou os ânimos ao elevar a apropriação do conteúdo e do controle da comunicação como estratégia política de resistência. “Assim como o assentamento é um território livre, devemos também construir nossos territórios livres no meio digital. A terra, a água e a comunicação são os principais alvos do dominador. Precisamos ficar atentos com a colonização que ainda resta em nós, para sabermos como nos libertar”.

Jô Machado, da Casa de Economia Solidária de Serra Grande, trouxe para a roda uma das bases da Economia Solidária, que é a formação das redes como espaços de troca e disseminação das ações coletivas que resistem à dominação dos meios de produção capitalistas: “A economia solidária é inclusiva e participativa, ela melhora o empoderamento e fortalece os 'pequenos'. 90% da população brasileira é considerada pobre. Devemos pensar nos motivos que nos levaram a deixar se dominar por esses 10%”.

“Nós chegamos num estágio do poder capitalista onde não cabe mais reforma”. É com essa fala que Joelson Ferreira, do Assentamento Terra Vista (MST), chamou a atenção para algumas ações que, segundo ele, devem ser executadas pelos movimentos que lutam pela liberdade e pela terra. “Não podemos pensar no voto como poder popular. Temos que construir nossas forças de defesa, conectar ainda mais as pequenas ações e unificar os projetos para romper com o latifúndio da educação”. Lembrou ainda a importância de aprender com a floresta, dando o exemplo dos catitu, porco da mata que, por andar em bando, sobrevive à dominação das onças. “Temos que ocupar, produzir, resistir e educar. Não há outro caminho”, finalizou Joelson.


Durante a plenária, o Mestre Lua de Santanas foi homenageado pelo Assentamento, em agradecimento à sua contribuição à Jornada e à construção do forno de barro em bioconstrução, que mobilizou mutirões de trabalho durante toda a semana. A fala do Mestre veio com um corrido de capoeira, que saudou as mães das Oxum e Iemanjá, destacando a importância da conservação das nossas águas: “Chamo Mamãe Oxum, chamo Mãe Iemanjá. Uma que mora na beira do rio e a outra que mora no fundo do mar.