quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Vídeo de cobertura da III Jornada

O vídeo de cobertura da III Jornada ficou pronto! Para celebrar o ano que se foi e os novos passos de 2015. Uma produção coletiva da Brigada Audiovisual dos Povos, com edição do camará Angel Luis. 

E a nossa luta continua fortalecida e em expansão! Abundância para tod@s nesse ano que se inicia!

domingo, 14 de dezembro de 2014

Carta de Mestre Joelson para a Teia de Agroecologia

Longos caminhos nos levam à grande Jornada de Agroecologia da Bahia. Mas não há longa jornada e nem tão longo caminhar se não tivermos coragem de dar o primeiro passo. Demos o primeiro, o segundo e o terceiro passos e já estamos aprendendo a caminhar. Nesse caminho, precisamos organizar com nossos esforços a perspectiva da revolução brasileira.


Nesse longo período da estagnação da esquerda é que viemos reafirmar que não haverá outro caminho para a humanidade, principalmente para o povo brasileiro, que não seja a construção da revolução para uma nova perspectiva e uma consciência de uma nova humanidade, junto com a Mãe Terra, com todo ser da mãe natureza, para reencontrar o caminho da felicidade, do amor e da bondade.

Reencontrar o caminho da revolução significa voltar para as simples coisas, os velhos sítios, o cuidado com as crianças e todos pequenos seres da natureza. Veja, a nossa revolução é cuidar das coisas simples, não é usar as mesmas armas do inimigo para tomar o poder pelo poder. A nossa revolução é respeitar os direitos dos indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos, das marisqueiras, do povo preto que está nas favelas, construir escolas, terreiros lúdicos, cuidar da juventude, mudar os hábitos alimentares, mudar os hábitos de consumo, acabar com individualismo, ou seja, acabar com todas as bases do capitalismo e construir outros valores de humanidade.

Buscar na individualidade das pessoas um espaço de construção da coletividade, tornar o homem e a mulher um ser comum, uma verdadeira comunidade de mulheres e homens livres. Buscar grandes desafios para envolver esse ser comum a pensar grande, para além da sua existência, pensar nas gerações que vem depois, nos filhos, netos, tataranetos.



Esses desafios poderiam ser superados a partir dos biomas. Por exemplo, o Bioma Mata Atlântica, o mais habitado do mundo, está apenas com 7% de sua mata preservada. Podemos elevar para 20% de preservação em dez anos; construir pesquisas para devolver ao bioma toda a diversidade perdida, construir uma relação de estudo e conhecimento da natureza desse grande bioma para curas de doenças, para a alimentação dos animais e dos humanos que vivem neste bioma; construir uma convivência harmoniosa e sábia com os indígenas, os verdadeiros donos dessa terra, com seus conhecimentos milenares e de todas as suas sabedorias e simplicidade; trabalhar uma relação de amor e partilha com a nossa mãe terra dentro do Bioma Mata Atlântica.


Tudo isso pode ser feito nos outros biomas - Caatinga, Cerrado e no Bioma Amazônico, ou seja, buscar uma cosmovisão africana e indígena, cultuar, cuidar de todos os seres da natureza. A nação brasileira é uma das poucas que podem voltar a se reconstruir, mesmo com toda depredação e apropriação indevida do capital, ainda existem muitas riquezas naturais – florestas, água, minérios, solos bons. A população é de uma grande mistura de índios, lusitanos (europeus), africanos de toda parte da mãe África e uma grande quantidade de povos da Ásia; é o único país que tem gente do mundo inteiro vivendo pacificamente. Se juntarmos toda essa força ao trabalho árduo e cuidadoso com a intenção de reconstruir uma nova perspectiva de humanidade com os valores do cuidado da mãe terra, da mãe natureza e de todos os seres que vivem na terra, estaremos fazendo uma grande revolução, surgindo do Brasil um grande exemplo de civilização comum para toda a humanidade.

Essa é a grande lição que devemos tirar da nossa simples III JORNADA DE AGROECOLOGIA DOS POVOS DA CABRUCA E DA MATA ATLÂNTICA, realizada de 4 a 7 de dezembro de 2014.

Se é para o bem da humanidade, diga ao povo que avance! Avançaremos!

Que o amor e o desejo de reconstruir uma nova perspectiva de humanidade renasça em cada coração, em cada ato neste natal, que é um momento de renascimento. E que a ação dos nossos movimentos, dos nossos Elos e de todos aqueles e aquelas que sonham com a pátria socialista e comum para todas e todos, todos os seres da natureza.

Viva a mãe Gaia!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Esse povo pega cabo de foice e de enxada!


A agroecologia que construímos, praticamos e debatemos durante a III Jornada se propõe a transformar o modo de produção da vida, em todas as suas dimensões. Isso inclui plantar sem agrotóxicos mas também se comprometer com a construção de relações sociais justas e que valorizem as culturas ancestrais.


"A transformação do mundo começa pela transformação de nós mesm@s", nos ensina diariamente o Mestre Joelson. Para isso, precisamos criar espaços de encontro para aprender, criar e experienciar esses novos modos de produção. Durante a III Jornada, as mais de 60 oficinas realizadas cumpriram exatamente esse papel. 


Propostas por diversos movimentos sociais, coletivos e instituições parceiras e fundamentadas nos princípios da Educação Popular, elas ocorreram ao longo de 2 dos 4 dias do evento, envolvendo a tod@s @s participantes da Jornada em um grande mutirão de troca e produção de conhecimento. Os saberes produzidos e reeditados durante essa Jornada são passos na caminhada de transformação da realidade das comunidades no campo e na cidade e estão comprometidos com a ciência e tecnologia agroecológica do e para o povo. 

As atividades realizadas trataram de diversos temas, dentre eles, manejo agroecológico de solos, abelhas e aves, compostagem, coleta de sementes da mata nativa, produção de pães, chocolate e tintas de terra, comunicação livre, painel com sementes, bonecos de cabaça, feminismo, questão agrária, identidade negra, etc. 

Com a mão na terra, na massa, no pincel, com a mão na consciência, esse povo que não tem preguiça de pegar cabo de foice e também cabo de enxada está semeando Agroecologia, para alimentar um Brasil faminto de justiça!



domingo, 7 de dezembro de 2014

Com quantas mãos se faz uma Jornada?

Essa Teia que aqui se fortalece não é costura de um bichinho só. Somos muitos e muitas trabalhando para fiar horizontes de justiça. Da mesma forma, construir um evento com mais de 1000 pessoas como é esta III Jornada não é resultado de nenhum samba de uma nota só.

Para se ter uma ideia, durante a Jornada foram formadas 10 Comissões de Trabalho!!! Cada um desses grupos é composto por companheiras e companheiros de diferentes elos da Teia, além de pessoas que chegaram para participar da Jornada e aderiram ao trabalho de produção.

Mas não se engane! Não é porque uma pessoa faz parte de um determinado grupo que seu trabalho não alimenta e depende do trabalho de todas as outras comissões! A equipe de recepção, por exemplo, precisa se articular com a infraestrutura, para garantir que todos e todas tenham onde se acomodar durante o evento. Já a equipe de oficinas está em constante diálogo com a de sistematização, pensando a dinâmica complexa da programação.

Aqui, nosso trabalho não é alienado. Nós plantamos junt@s a Jornada, para que possamos garantir a colheita dos frutos, que serão nossos. Se lutamos a favor da reconquista de nossa dignidade, é só por meio dela que podemos construir nosso caminhar. Assim, durante essa Jornada, buscamos por em prática o mundo que queremos construir.

Há companheiras e companheiros que não estão sob a luz dos holofotes. Nem por isso são menos fundamentais para que a Jornada aconteça. A Silvia, por exemplo, é assentada no Terra Vista e responsável pela coordenação da equipe que faz as deliciosas refeições que saboreamos durante esses dias aqui. Na cozinha do Centro de Formação Florestan Fernandes, trabalham intensamente cerca de 10 pessoas entre 5h e 19h. Além de preparar o nosso alimento, essas pessoas também tiveram o cuidado de garantir que gestantes, anciões e crianças pequenas tivessem uma cozinha específica, com o intuito de oferecer-lhes a refeição de maneira ágil e confortável.


Outra equipe que pouca aparece e muito faz é a de segurança. Durante esses quatro dias, Xixa e sua equipe foram responsáveis por cuidar da abertura e fechamento dos portões do território Terra Vista, garantindo assim a integridade do espaço e das pessoas que aqui estão. Também foi esse pessoal que, durante as madrugadas, esteve luminosa como a Lua, cuidando que as atividades culturais se desenvolvessem de maneira tranquila, não atrapalhando o merecido descanso d@s presentes.

Além dessas, há uma infinidade de pessoas que, mesmo não falando nas plenárias, tiveram uma participação imprescindível para que essa Jornada seja o que foi e o que é.

A elas, nosso mais profundo agradecimento!

Carta da III Jornada de Agroecologia da Bahia

"Pelos caminhos da América, no centro do continente, marcham punhados de gente, com a vitória na mão. Nos mandam sonhos, cantigas, em nome da liberdade, com o fuzil da verdade, combatem firme o dragão. 

Pelos caminhos da América há um índio tocando flauta, recusando a velha pauta que o sistema lhe impôs. No violão um menino e um negro tocam tambores, Há sobre a mesa umas flores pra festa que vem depois."

Zé Vicente - “Pelos Caminhos da América


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Elas e eles, mais de mil e duzentos, chegaram de todas as partes chocalhando seus maracás, tocando seus tambores e atabaques, percutindo seus berimbaus e caxixis, dedilhando seus violões e acordeons e soprando suas flautas e gaitas. Chegaram com ginga, com cores, com alegria, trouxeram suas sementes sagradas e seus saberes ancestrais. Nos seus alforjes, sonhos, rebeldias e esperanças de um novo mundo possível para TOD@S. Na primeira semana de dezembro de 2014, entre 4 e 7, aconteceu nosso Grande Encontro no Assentamento Terra Vista, em Arataca, sul da Bahia, com o tema: “Sementes, ciência e tecnologia agroecológica, para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade”.

Foram quatro dias intensos de partilhas, reflexões, práticas, celebrações e uma mística que envolvia a tod@s. Com oficinas temáticas, mini-cursos, mesas redondas, momentos lúdicos, conversas ao pé da fogueira, ocupamos os diversos “cantos” do assentamento. Junto a isso, a feira troca-troca de sementes crioulas, os banhos no Rio Aliança e as diversas reuniões políticas dos movimentos aqui presentes, levaram-nos as seguintes constatações:

* A certeza de que a caminhada realizada desde a I Jornada no final de 2012, com a consolidação da Teia de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica, deve continuar.  A Teia atuará de forma permanente enquanto uma rede que reconstrói a solidariedade entre as comunidades tradicionais, movimentos do campo e da cidade, ampliando assim o sentido da agroecologia, tão distorcida pelo excesso acadêmico e teórico e de tão pouca prática. Devemos desconstruir o tecnicismo perigoso, para defender uma agroecologia que une os povos e saberes, para garantir saúde dos nossos alimentos, solos e águas, das nossas relações sociais, da nossa identidade cultural, espiritual e ancestral. Como vimos fortemente nesta III Jornada, nos comprometemos na luta pela preservação e garantia de nossas sementes - “Patrimônio genético dos povos e da humanidade”.

* Assim como na II Jornada, percebemos e reafirmamos o compromisso de consolidar uma saúde de boa qualidade, diferenciada e autônoma, que reafirme nossos modos de vida ancestrais e nossa forma de construir política e militância. Isso só é possível a partir da luta pela garantia dos territórios, de alimentos saudáveis e da vida de nosso povo e lideranças. A agroecologia, então, é também uma forma de enfrentamento do sistema opressor e a Teia se propõe a conduzir ações solidárias diretas em defesa desses objetivos. Assim, nossa luta segue o caminho irrestrito da defesa da terra e da construção de uma soberania popular que só pode ser conquistada a partir de nosso suor.

* Exigimos a democratização da terra, a garantia dos territórios dos povos, a desintrusão e regularização imediatas dos territórios indígenas e quilombolas, além da reforma do solo urbano. Repudiamos veementemente os ataques dos ruralistas, com a conivência do Estado Brasileiro, contra os direitos duramente conquistados pelos povos do campo. Por isso, dizemos NÃO às propostas de Emendas Constitucionais (PECs), Projetos de Leis (PLs) e Portarias Ministeriais que atacam e tentam tirar direitos já conquistados. Todos esses instrumentos buscam inviabilizar e impedir o reconhecimento e a demarcação das terras dos povos tradicionais; reabrir e rever procedimentos de demarcação de terras indígenas já finalizados; facilitar a invasão, exploração e mercantilização dos territórios sagrados dos povos das florestas. Continuaremos numa luta constante contra todos estes instrumentos jurídicos e legislativos que tentam deslegitimar as lutas e retirar os direitos constitucionais destas populações.

* Rechaçamos as propostas dos serviços ambientais no contexto da economia verde, incluindo seu maior expoente, o REDD+. Isso continuará sendo uma parte central da nossa luta contra o capitalismo e as indústrias extrativas, mineradoras, assim como outras que se alinham ao capitalismo espoliador e destruidor da natureza e de seus povos. Reafirmamos o compromisso de nos organizarmos pela defesa e autonomia dos nossos territórios, das populações que vivem, dependem e são parte das florestas, pela defesa da Mãe Terra. Basta de projetos espoliadores! Não aos serviços ambientais! Lutar contra REDD+ também é combater o capitalismo!

* Reafirmamos que lutar não é crime. Não à criminalização e extermínio dos povos que defendem seus territórios! Queremos um basta imediato no processo de criminalização das lutas e das lideranças.

* Exigimos que os governos municipais, estaduais e o governo federal cumpram com suas obrigações constitucionais e garantam os nossos direitos. Que possamos ter políticas públicas que, verdadeiramente, atendam e respeitem as nossas necessidades e  especificidades. Isto não é um favor, é um direito!

* Invocamos a proteção dos nossos encantados, os seres de luz, para continuarmos lutando contra os projetos de morte, que em nome do dito “progresso”, conhecido como agronegócio e hidronegócio, ataca e agride nossas comunidades, desrespeita  identidades culturais, ferem a Mãe Natureza e seus filhos e filhas. Lutaremos sempre por uma educação descolonial, não patriarcal, antirracista e libertadora, que nos leve a concretizar o nosso Bem Viver.

* Percebemos a necessidade e nos comprometemos em aperfeiçoar a prática da agroecologia nos nossos territórios, articulando saberes ancestrais com novos conhecimentos, usando tecnologias e formação política para o empoderamento popular. Nos comprometemos com a ampliação dos nossos bancos de sementes e viveiros de mudas, com o manejo e uso da agroecologia e biodiversidade em SAF’s (Sistemas Agro Florestais). Fortaleceremos modelos comunitários de produção, sem o uso de venenos e construindo uma grande Teia de tecnologias sociais, onde a camponesa e o camponês, com seus saberes tradicionais, são fundamentais para garantir a soberania dos povos em suas terras.

* Firmamos nossa atuação com as diferentes gerações e nos comprometemos com a educação para a rebeldia e desobediência; com a formação política e vivências comunitárias para nossas crianças e jovens; e com o enfrentamento das opressões contra as mulheres, a população negra, indígena e LGBT, no campo e nas periferias das cidades.

* As mulheres da Teia reafirmam a necessidade da consolidação de um modo de atuação que garanta a organização autônoma de seus espaços, fortalecendo o enfrentamento da opressão de gênero no campo e na cidade.

* A Teia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica sente a necessidade e a importância de articular com outros povos, por isso se faz necessário a vinculação com a Via Campesina, agregando nossas ações aos povos do mundo e colaborando com o avanço da luta no estado da Bahia, tão fragmentada por disputas mesquinhas, quase sempre conduzidas pelas disputas partidárias.

* Nos comprometemos em continuar a nossa jornada unid@s, partilhando os nossos saberes, construindo coletivamente nossos sonhos, protegendo as nossas sementes, organizando em mutirão as nossas lutas, exigindo com responsabilidade e de forma propositiva os nossos direitos, transformando os nossos espaços em territórios sagrados, semeando sementes de esperança para colhermos frutos de vida e plenitude, retirando e impedindo o uso de venenos e agrotóxicos não só da terra, mas de nossa convivência, para podermos saborear num futuro bem próximo um chocolate amargo-doce, resultado de uma corrente de diferentes elos unidos e entrelaçados por um único ideal: O DE AVANÇAR! DIGA AO POVO QUE AVANCE... AVANÇAREMOS!

É preciso resistir para EXISTIR!


Assentamento Terra Vista - Arataca (BA), 07 de dezembro de 2014

Reflexões da mesa "Agroecologia e Governança''


Deyse

''Não podemos deixar nada nos separar. A agenda de luta da Teia é uma agenda para a vida inteira."


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Sayô Adinkra

“As políticas públicas são tudo aquilo que o governo decide fazer, ou não, a partir de demandas da sociedade. Pode existir política pública que o governo ainda não intervem. Existe a política pública a nível macro, que é feita pelo governo, mas existe também uma multiatorialidade nessa construção, que não parte do governo, é o caso dos movimentos sociais... Estar na Jornada é alimentar nossa capacidade de avançar!''


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Joelson Ferreira

“Há 26 anos no MST traz em sua fala o ideal que motiva a luta, a Revolução Brasileira, e convoca todos os guerreiros e guerreiras que há séculos lutam pela liberdade, os caciques, Zumbi, Dandara, Ganga Zumba. É preciso juntar os segmentos que compõem a Teia em uma pauta única, e também garantir soberania alimentar, para lutarmos de barriga cheia... O Brasil tem que assumir a responsabilidade da revolução, que já é mundial, e derrubar o capitalismo, não há outra alternativa. É chegada a hora de juntar os guerreiros e as guerreiras.”


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Adélia, reitora da UESC, fala da aproximação da universidade em prol dos movimentos sociais e do campo, citando as turmas formadas na especialização em Agroecologia e todo um conjunto de ações que reconhece a democratização do acesso à universidade, como a reserva de vagas.


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Homenagem das mulheres da Teia em apoio à Cacica Maria Muniz, que passa atualmente por processo judicial.


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Painel de Semente produzido durante a Jornada com elementos dos povos que compõem a Teia.


Mística Final



 


Curta-Documentário Semente Paraíso

Confira o curta-documentário Semente Paraíso, produção audiovisual sobre o trabalho de agricultura urbana do MSTB (Movimento dos Sem Teto da Bahia), entre dezembro de 2013 e agosto de 2014, em Salvador (BA). O trabalho foi uma parceria entre CEAS, NEPPA e a Brigada de Audiovisual dos Povos.
                                   
                                       Semente Paraíso.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Reflexões da mesa "Agroecologia, educação e luta de classe"

Ritual com toré e tabaco com Cacique Nailton e Dona Maria

Mística com os povos de quilombo encenando o histórico de
opressão e libertação do povo negro no Brasil
  
MESA

Sayô Adinkra
  
“Como podemos construir um movimento agroecológico que perceba que a luta pelo território não é só no campo? Que também precisamos lutar pela dignidade nos territórios urbanos de periferia, para que eles comunguem com a defesa do território rural.” 



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Cacique Babau

“Morra em pé, mas não morra ajoelhado. Enquanto tiver um tupinambá de pé, nós vamos lutar, pois os que recuaram morreram.”

“A questão agroecológica é algo que nós indígenas sempre 'viveu'. Até os portugueses chegarem a gente vivia uma relação íntima e harmônica com a natureza. Quando víamos que um lugar estava saturado pelo povoamento, saíamos para outro espaço para deixar o lugar onde estávamos se recuperar. Depois, começamos a cultivar plantas para melhorar a rotatividade e respeitar a Mãe Terra. Os portugueses que chegaram tentaram forçar nossa rendição e a perda dos nossos costumes.”

“A educação de hoje é uma lavagem cerebral para que ninguém se sinta índio, negro e brasileiro. Eu não aceito essa educação perpetuada com discriminação e destruição. A Universidade tem que ser tomada e dada a quem sabe o que é educação, a ensinar o que é nosso.” 



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Ademar Bogo

“Classe é uma construção coletiva."

"A vontade é uma força que mora dentro de cada coisa, viva ou morta. Vontade do conhecimento, da consciência. Ninguém tem vontade de desaprender.”

“Existem três questões importantes para a luta da Agroecologia: não se desligar do conflito, da educação e da nossa associação enquanto humanos.”

Zines coletivos produzidos na III Jornada

Durante o segundo dia de III Jornada, foi realizada uma oficina sobre Zines e Comunicação Livre. Os zines são publicações artesanais e independentes, de livre reprodução, bastante usadas pelo movimento punk e movimentos sociais pelo mundo. É uma forma barata, autônoma e eficaz de compartilhar informações. Pela tradição, quem recebe um zine pode e tem a missão de xerocar, reproduzir e passar adiante essa ideia de multiplicar a comunicação livre. Importante também para a autonomia é a ideia de que o zine pode ser feito por qualquer pessoa. Não precisa ser especialista em design, desenho, texto ou usar programas de computador. A linguagem e o modo de fazer são livres. Você pode usar colagens, poesias, frases soltas e curtas, ou também textos longos. Você escolhe, você faz do seu jeito!

Na oficina realizada na Jornada, foram produzidos três zines: A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas; A Jornada de Agroecologia; e Sementes Crioulas. Baixe, reproduza e passe adiante.

Todos os zine estão disponíveis para baixar no Baobáxia.


VERSÕES DIRETA PARA BAIXAR

- Sementes Crioulas (Frente)
- Sementes Crioulas (Verso)
- A Jornada de Agroecologia (Frente)
- A Jornada de Agroecologia (Verso)
-  A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Capa e Verso)
A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Pag. 2 e 7)
A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Pag. 4 e 5)
A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas (Pagina 3 e 6)




VERSÕES PARA VISUALIZAÇÃO


  A Questão de Gênero em Comunidades Tradicionais e Camponesas 







A Jornada de Agroecologia da Bahia






Sementes Crioulas




Reflexões do 2º dia de Jornada

A mesa do segundo dia de III Jornada, realizada na sexta-feira (05/12), teve como tema Sementes, ciência e tecnologia para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade. As falas que embasaram o diálogo foram da Cacica Maria Muniz (Pataxó rã rã rãe), de Joelson Ferreira (Assentamento Terra Vista) e da professora Maria Aparecida (UFBA). À tarde, a Jornada seguiu com as oficinas, mini-cursos, feira de economia solidária e a 1ª Troca Troca de Sementes Crioulas. À noite foi voltada às celebrações culturais entre todos os povos presentes.




Mesa

A Cacica Maria inicia a mesa apresentando o livro que está em construção com mulheres indígenas de sua comunidade. Com a frase “semear cantando”, conta experiências sobre a produção em mutirão que ocorreu em seu território, integrando indígenas, assentados e quilombolas, trazendo a percepção da terra como símbolo de fertilidade e do trabalho coletivo em ritual, com cantorias tradicionais como torés. Em seguida, convoca a juventude para lutar “ombro a ombro” com o povo, refletindo sobre ideologias de desunião e sobre o mau uso de tecnologias que nos afastam da vivência. Finaliza sua fala com cânticos de força. 

A professora Maria Aparecida, da UFBA, contou a lenda do surgimento da agricultura a partir das mulheres, que destrincha a trajetória histórica das sementes como base da humanidade: “As sementes tem material genético, são a essência da vida, ou seja, são embriões”. Fez um breve histórico sobre a Revolução Verde, que disseminou a produção em massa de alimentos e agrotóxicos. Em contraponto, comentou sobre o surgimento do princípio da Agroecologia, nos anos 70. Apontou a agroecologia e as sementes crioulas como caminho para a efetividade da soberania alimentar: “Não se pode utilizar 100% das sementes. É preciso manejo sustentável, guardar uma parte para as produções futuras”. 

Joelson Ferreira, do Assentamento Terra Vista, apresentou o trabalho de uma cooperativa do MST no Rio Grande do Sul, chamada Bionatur, que produz sementes orgânicas para comercialização. A partir dessa experiência, lembrou que as sementes não são patrimônio das empresas que buscam controlar a nossa produção de alimentos, como a Monsanto e a Bayer. “Estamos com a riqueza nas mãos, agora é preciso cuidar delas”, indica Joelson ao lembrar da importância das trocas de sementes para a manutenção da produção e do cuidado com a terra, criando condições para chegarmos a soberania do povo. 

Joelson lembrou que as sementes modificadas são dependentes de veneno e os alimentos proveniente delas agem da mesma forma no nosso organismo, gerando doenças. Ressaltou que as mulheres sempre foram as guardiãs das sementes crioulas e sugere nossa tarefa: “Que cada um e cada uma se transforme em plantadores, cuidadores e semeadores de sementes. Se não tiver espaço para a produção, doe para alguém continuar o trabalho. Para isso, é preciso primeiramente acabar com a capitalismo e conscientizar o povo das cidades sobre a necessidade de voltar à terra, evitando que nosso povo morra nas periferias”. 

Ao final, Joélson convida o Mestre TC para explicar o significado do Baobá como árvore sagrada e ancestral no território africano. TC complementa indicando a necessidade de compreendermos que nós, seres humanos, semeamos valores junto com as sementes, porque também somos patrimônio da terra. “Precisamos ser boas sementes, tendo a generosidade como caminho”.