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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Registro do I Encontro de Mulheres da Teia de Agroecologia dos Povos

 
“Eu peço a benção à Mãe Terra e ao nosso Pai Tupã!”

“Mulher e Agroecologia: Pra fazer Soberania!”


É pedindo a benção e com um grito coletivo de luta e de união que se iniciou o I Encontro de Mulheres de Teia de Agroecologia dos Povos, no Assentamento Terra Vista, em Arataca (BA). Indígenas, quilombolas, assentadas, juventude urbana e crianças estiveram unidas em dois dias, 21 e 22 de agosto de 2015, para conviver, trocar experiências e dialogar sobre a participação das mulheres na luta pelo direito à terra a partir da Agroecologia. O Encontro também pautou a atuação feminina na IV Jornada de Agroecologia da Bahia, que já está com inscrições abertas.


Em rodas de diálogo e místicas foram levantados temas relacionados diretamente às práticas agroecológicas, em especial aos fazeres e saberes repassados e consolidados pelas mulheres através da oralidade. O encontro foi também um momento de articulação entre as mulheres da Teia dos Povos, pautando importantes encaminhamentos para a atuação feminina na IV Jornada de Agroecologia da Bahia, que será realizada entre os dias 29 de outubro e 01 de novembro de 2015, no Assentamento Terra Vista, com o tema “Terra, Território e Poder”.



Místicas e Oficinas


“Não se seca raiz de quem tem sementes espalhadas para brotar”
(Poesias de Eliane Potiguara)

Entrelaçando os diálogos, o Encontro de Mulheres da Teia foi conduzido em vários momentos pelas místicas, momentos de ritualização e conexão com nossa ancestralidade, força que move mulheres e homens para seguir adiante na luta pela terra. As místicas foram conduzidas pelas mestras indígenas Pataxó, Pataxó Hãhahãe e Tupinambás.

Por entender que discurso sem a prática é prato vazio, realizamos três oficinas na manhã do dia 22, sábado: Horta Agroecológica, Sistemas Agroflorestais e Cacauada, ministradas por assentados do Terra Vista e membros da Teia. “Quando a gente fizer o que a gente fala é que a gente vai comer o que a gente quer”, reforçou a companheira Dora Silva, da Teia dos Povos.

Sobre a prática, o Encontro proporcionou uma nova experiência para os nossos companheiros de luta, que estiveram presentes na cozinha, preparando as refeições do Encontro. Isso mostra que é possível a presença masculina em atividades domésticas antes dogmatizadas como funções preferivelmente femininas. Após o Encontro, percebemos que é necessária a paridade de gênero nesses espaços, missão dada para os próximos encontros da Teia.




 
 
TEMÁTICAS DIALOGADAS


Soberania e Segurança Alimentar

O diálogo em torno da soberania alimentar começou com a conceituação de como a entendemos. A soberania diz respeito ao direito de todos os povos em ter uma alimentação saudável e o conhecimento sobre seus meios de produção, direito esse limitado com a formação do modelo de sociedade capitalista. “A 'dessoberania' surgiu com os resquícios do fim da II Guerra”, lembra a companheira Jéssica Camargo, da Frente Nacional de Lutas (FNL), explicando como as substâncias bélicas foram parar na agricultura e em nossas mesas, a partir do uso de adubos e fertilizantes derivados da guerra e comercializados pela multinacionais.

Tatiana Botelho, do Instituto Cabruca, citou o cruel ciclo de dominação das multinacionais. As mesmas empresas que produzem as sementes transgênicas são as que produzem agrotóxicos e manipulam remédios da indústria farmacêutica. Ou seja, dentro desse sistema ilusório, nos alimentamos de veneno e procuramos o mesmo veneno como antídoto às doenças por ele causadas. Entretanto, a Agroecologia e seus saberes tradicionais vêm como proposta prática e política ao enfrentamento da imposição capitalista. “A Agroecologia nada mais é que um conceito acadêmico para definir o resgate à forma como nossos ancestrais cultivavam a terra”, ressalta Fernanda Tanara, do Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias - NEPPA.



Sementes

Aniele Silveira, da Teia dos Povos, relatou um breve histórico sobre uma das principais empresas de transgênicos, a Monsanto. Essa multinacional, assim como a Singenta, Bayer, Dupont, Down, entre outras, possuem a patente de dezenas de sementes, impedindo a apropriação por parte das agricultoras e agricultores. A semente transgênica, além de não se reproduzir, é geneticamente enfraquecida para que necessite do uso de aditivos químicos, causando dependência financeira e alimentar, além de gerar impactos ambientais sobre o solo, as matas, as águas, animais e humanos.

Dona Maria Muniz, Pataxó Hãhãhãe, contou sobre o sucesso da reprodução de sementes crioulas em sua aldeia, a partir da troca de sementes realizada na II Jornada de Agroecologia da Bahia. Exemplo claro de que as sementes nativas e a agroecologia fortalecem não só a produção alimentar saudável, mas também a auto-organização das mulheres e a geração de renda. Essa fala lembra a importância de se pautar a criação e o fortalecimento das redes de sementes crioulas dentro dos territórios tradicionais e urbanos de resistência, conectando diferentes realidades de luta e estando presente em espaços de controle. “Devemos estar atentas aos acontecimentos políticos, pois neles há fortes intenções, e também ocupar espaços como as universidades”, ressalta Nádia Acauã, Tupinambá de Olivença.


Saberes Tradicionais

“Se a terra é mãe, é uma mãe doente, estuprada, espancada, cansada e marcada para morrer”. Assim a companheira Nancy Cardoso, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), sensibilizou o debate trazendo o entendimento sobre a opressão que a Mãe Terra vivencia e que é semelhante à opressão que as mulheres sofrem e lutam, juntas, para se libertar. Essa é uma relação importante entre a mulher e a Agroecologia. “Temos que tratar a terra bem, aí está nossa tarefa mística. A gente precisa ir para a política com essa concepção. Queremos ser Mulheres que gozam e sentem o prazer, assim como a Agroecologia é o prazer para a Mãe Terra.”

Os saberes tradicionais e a noção de identidade afirmam o empoderamento das mulheres na Agroecologia, pois elas são guardiãs dos conhecimentos da Terra, como o uso das ervas medicinais, o partejar, etc. Por isso, precisamos entender a tradição oral como conteúdo de conhecimento agroecológico, integrando ele com o dito conhecimento formal. Sobre isso, Dona Maria Muniz comenta: “A Universidade deve compreender as necessidades da gente e os nossos saberes ancestrais. Temos o conhecimento da terra! Nós, indígenas, quilombolas e não indígenas, cuidando da terra juntas, vamos mudar esse país. Temos que dizer como é a vida aos nossos jovens e ensiná-los a fazer o certo”.


“Olê Mariê,
Olê Mariá,
Mulher sai dessa cozinha,
Vem ocupar seu lugar!”


ZINE

Para compartilhar parte do que foi realizado no I Encontro de Mulheres da Teia de Agroecologia dos Povos, foi confeccionado um zine do encontro. Zine é uma publicação artesanal, independente e livre, feita com colagens, ilustrações, escritos, poesias e o que a criatividade for capaz de realizar. Uma comunicação que fortalece a autonomia. O zine do encontro foi produzido por várias mãos femininas e apresenta, resumidamente, uma cobertura do encontro a partir de falas das companheiras que estiveram presente. Cada elo levou uma cópia para suas comunidades, com a missão de copiar e distribuir para mais mulheres e também para os companheiros. Para baixar o PDF e imprimir, clique aqui.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Cacau Cabruca, Agroecologia e Chocolate - Projeto de Desenvolvimento para a Mata Atlântica


O Território da Mata Atlântica é um grandioso ecossistema, que já foi responsável por quase 70% do PIB da Bahia. Tempos bons, maravilhosos, mas agora não podemos ficar presos à contemplação do passado. Como diz o poeta: “o passado é uma roupa velha que já não serve mais”. A região, outrora rica, hoje mergulha numa crise e na pobreza imensa, em todos os sentidos.

Estamos mergulhados num abismo de violência, prostituição e drogas que pouco a pouco mata nosso sonhos e nossa esperança. Como se não bastasse tudo isso, a região sofre um processo de destruição de seu patrimônio natural, até hoje guardado pelo cacau Cabruca. Em seu lugar, está sendo plantado o café canilon em larga escala, bem como o monocultivo de eucalipto com grande uso de agrotóxico. Sem falar que continua a prática da pecuária extensiva, numa ignorância sem tamanho. No norte do Espírito Santo, o café canilon já mostrou seu potêncial destrutivo. No Extremo Sul da Bahia, o deserto verde das grandes papeleiras só cresce, dando continuidade à produção de papel higiênico e outros tipos de papel. Aqui em nossa região, “o pé do boi” continua sendo um dos principais responsáveis pela devastação da biodiversidade em vários municípios.

Com a destruição da Biodiversidade, morre também as nascentes, os rios e os solos, pois perdem a proteção da cobertura da Mata Atlântica e da Cabruca que asseguravam toda fauna e flora. Assim, acabamos perdendo todas as nossas riquezas naturais.

Há ainda outra tragédia em curso: a dizimação e destruição dos povos indígenas e do povo negro remanescente dos Quilombos. A esses dois povos, não há outra saída senão lutar para retomar o seu território e recuperá-lo dessa monstruosa devastação. Aos pequenos e médios produtores, assentados da Reforma Agrária, os Ribeirinhos, as Juventudes do campo e da cidade, só nos resta a união em uma grande jornada de solidariedade e luta com os povos tradicionais. Primeiro, uma luta em defesa do grande território do cacau e da cabruca. Segundo, em defesa da terra para plantar e para morar. Por fim, para a construção de um grande projeto de desenvolvimento.



Quando se fala em toda essa destruição, alguns falam de que é o preço pelo desenvolvimento. Mas que desenvolvimento é esse que promove a destruição do meio ambiente, empobrecimento, violência, prostituição e tráfico de drogas? Um desenvolvimento que prega a urbanização desenfreada? Que promove a ideologia da desvalorização do local e adoração ao que vêm de fora?

O projeto de desenvolvimento que queremos precisa ter como princípio a Educação, a Agroecologia, a defesa da Biodiversidade, do cacau e do chocolate da Mata Atlântica. Para isso, é necessário, construir uma grande unidade dos povos dessa região, para recuperar 200 mil ha de Cacau Cabruca. Implantar 200 mil ha de sistemas agroflorestais para construir uma economia da Mata Atlântica que produza cosméticos, uma variedade grandiosa de remédios, perfumaria e uma infinidade de alimentos para garantimos a Segurança Alimentar e Nutricional de todos os seres humanos da região, bem como para todas as espécies de animais. 





Precisamos também minimizar os impactos da pecuária, construindo no seu lugar uma bacia leiteira com os animais semi confinados e produzir bastante biomassa para alimento animal e energia renovável. Frear a monocultura do eucalipto, fazendo um grande zoneamento, bem como destinar parte desse eucalipto plantado para transformação em móveis e outra parte para construção civil, além de impedir novos plantios em outras áreas. Substituir o café canilon por um café com florestas, respeitando as nascentes e os rios. Impedir o uso de pesticidas e agrotóxicos, principalmente próximo à mata ciliar, aos rios e às nascentes. 

Essas propostas vão proporcionar uma convivência harmoniosa com a natureza e, junto com as lindas praias que embelezam essa região, trabalharemos para a consolidação de rotas turísticas do cacau e do chocolate. Com uma forte indústria de base para agregar valor aos nossos produtos, construíremos uma economia capaz de empregar mais de 300 mil pessoas. Caberá à Educação a responsabilidade de sensibilizar a população e prepará-la para os próximos desafios, rumo à consolidação de um projeto de sustentabilidade inclusivo, com toda a população e todos os seres da natureza. 



COM A COMIDA DAS DEUSAS E DOS DEUSES, CELEBRAREMOS COM UM BANQUETE O FUTURO DA NOSSA REGIÃO. VIVA MATA ATLÂNTICA, AO CACAU E AO CHOCOLATE!


Joelson Ferreira – Assentamento Terra Vista

segunda-feira, 9 de março de 2015

Carta contra a PEC 215, demarcação das terras indígenas e quilombolas e a favor da biodiversidade

"A Teia de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica quer reafirmar que este ano é um ano de luta em defesas das terras sagradas, dos povos indígenas, do povo quilombola e em defesa da biodiversidade e da Mata Atlântica. Em defesa da educação de qualidade e do resgate das sementes crioulas e dos conhecimentos dos ancestrais. 

Reunidos de 4 a 7 de março no Assentamento Terra Vista, em Arataca (BA), para a formação dos elos e das frentes de luta, decidimos que mês de março é mês de mutirões e preparação da nossa base para que, no mês de abril, todos e todas dos elos da TEIA estejam prontos para as lutas em defesa dos nossos territórios. 


Marcharemos a Brasília. Marcharemos a Salvador. E em cada localidade onde existir um elo da TEIA, faremos movimentação contra a PEC 215 e pela demarcação das terras indígenas e quilombolas do Brasil. Sendo assim, até o dia 16 de abril é tempo de luta e de enfrentamento para defender os nossos direitos e nossa terra sagrada. 

Cientes do nosso compromisso: diga ao povo que avance, avançaremos! 

Queremos reafirmar que temos que sair dessa pauta de dois em dois anos de eleições, ou seja, eleições de 2016 e eleições de 2018, para uma luta contínua em defesa dos nossos direitos e uma ruptura com o sistema capitalista. E temos que entender que no sistema capitalista não há espaço para os pobres, para os índios, os negros, os sem terra, os quilombolas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos e toda a classe trabalhadora. 


Temos que romper com este sistema inclusive porque não há possibilidade de reforma e nem tão pouco de conserto. Ou acabamos com o bicho capitalista ou esse bicho acaba com a comunidade. Para isso, será necessário construir uma base para o novo sistema de cooperação, onde os povos da terra e das cidades possam reconstruir uma nova forma de bem viver com todos os seres da natureza. Queremos concluir que só a luta e o povo salva o próprio povo e poderá reconstruir uma nova perspectiva de humanidade. Porque no capitalismo não será possível. O modo capitalista já chegou ao seu fim. 

Só a humanidade intrinsecamente relacionada com a mãe terra e com todos os seres da natureza possibilitará nos reconstruir. Pobres do mundo inteiro: Uni-vos!" 

 Joelson Ferreira - Assentamento Terra Vista



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Continue acompanhando o blog da Jornada e a nossa página nas redes sociais. Em breve, divulgaremos a agenda de luta e as ações da Teia para o primeiro semestre de 2015. 


quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Vídeo de cobertura da III Jornada

O vídeo de cobertura da III Jornada ficou pronto! Para celebrar o ano que se foi e os novos passos de 2015. Uma produção coletiva da Brigada Audiovisual dos Povos, com edição do camará Angel Luis. 

E a nossa luta continua fortalecida e em expansão! Abundância para tod@s nesse ano que se inicia!

domingo, 7 de dezembro de 2014

Carta da III Jornada de Agroecologia da Bahia

"Pelos caminhos da América, no centro do continente, marcham punhados de gente, com a vitória na mão. Nos mandam sonhos, cantigas, em nome da liberdade, com o fuzil da verdade, combatem firme o dragão. 

Pelos caminhos da América há um índio tocando flauta, recusando a velha pauta que o sistema lhe impôs. No violão um menino e um negro tocam tambores, Há sobre a mesa umas flores pra festa que vem depois."

Zé Vicente - “Pelos Caminhos da América


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Elas e eles, mais de mil e duzentos, chegaram de todas as partes chocalhando seus maracás, tocando seus tambores e atabaques, percutindo seus berimbaus e caxixis, dedilhando seus violões e acordeons e soprando suas flautas e gaitas. Chegaram com ginga, com cores, com alegria, trouxeram suas sementes sagradas e seus saberes ancestrais. Nos seus alforjes, sonhos, rebeldias e esperanças de um novo mundo possível para TOD@S. Na primeira semana de dezembro de 2014, entre 4 e 7, aconteceu nosso Grande Encontro no Assentamento Terra Vista, em Arataca, sul da Bahia, com o tema: “Sementes, ciência e tecnologia agroecológica, para mudar a realidade das comunidades no campo e na cidade”.

Foram quatro dias intensos de partilhas, reflexões, práticas, celebrações e uma mística que envolvia a tod@s. Com oficinas temáticas, mini-cursos, mesas redondas, momentos lúdicos, conversas ao pé da fogueira, ocupamos os diversos “cantos” do assentamento. Junto a isso, a feira troca-troca de sementes crioulas, os banhos no Rio Aliança e as diversas reuniões políticas dos movimentos aqui presentes, levaram-nos as seguintes constatações:

* A certeza de que a caminhada realizada desde a I Jornada no final de 2012, com a consolidação da Teia de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica, deve continuar.  A Teia atuará de forma permanente enquanto uma rede que reconstrói a solidariedade entre as comunidades tradicionais, movimentos do campo e da cidade, ampliando assim o sentido da agroecologia, tão distorcida pelo excesso acadêmico e teórico e de tão pouca prática. Devemos desconstruir o tecnicismo perigoso, para defender uma agroecologia que une os povos e saberes, para garantir saúde dos nossos alimentos, solos e águas, das nossas relações sociais, da nossa identidade cultural, espiritual e ancestral. Como vimos fortemente nesta III Jornada, nos comprometemos na luta pela preservação e garantia de nossas sementes - “Patrimônio genético dos povos e da humanidade”.

* Assim como na II Jornada, percebemos e reafirmamos o compromisso de consolidar uma saúde de boa qualidade, diferenciada e autônoma, que reafirme nossos modos de vida ancestrais e nossa forma de construir política e militância. Isso só é possível a partir da luta pela garantia dos territórios, de alimentos saudáveis e da vida de nosso povo e lideranças. A agroecologia, então, é também uma forma de enfrentamento do sistema opressor e a Teia se propõe a conduzir ações solidárias diretas em defesa desses objetivos. Assim, nossa luta segue o caminho irrestrito da defesa da terra e da construção de uma soberania popular que só pode ser conquistada a partir de nosso suor.

* Exigimos a democratização da terra, a garantia dos territórios dos povos, a desintrusão e regularização imediatas dos territórios indígenas e quilombolas, além da reforma do solo urbano. Repudiamos veementemente os ataques dos ruralistas, com a conivência do Estado Brasileiro, contra os direitos duramente conquistados pelos povos do campo. Por isso, dizemos NÃO às propostas de Emendas Constitucionais (PECs), Projetos de Leis (PLs) e Portarias Ministeriais que atacam e tentam tirar direitos já conquistados. Todos esses instrumentos buscam inviabilizar e impedir o reconhecimento e a demarcação das terras dos povos tradicionais; reabrir e rever procedimentos de demarcação de terras indígenas já finalizados; facilitar a invasão, exploração e mercantilização dos territórios sagrados dos povos das florestas. Continuaremos numa luta constante contra todos estes instrumentos jurídicos e legislativos que tentam deslegitimar as lutas e retirar os direitos constitucionais destas populações.

* Rechaçamos as propostas dos serviços ambientais no contexto da economia verde, incluindo seu maior expoente, o REDD+. Isso continuará sendo uma parte central da nossa luta contra o capitalismo e as indústrias extrativas, mineradoras, assim como outras que se alinham ao capitalismo espoliador e destruidor da natureza e de seus povos. Reafirmamos o compromisso de nos organizarmos pela defesa e autonomia dos nossos territórios, das populações que vivem, dependem e são parte das florestas, pela defesa da Mãe Terra. Basta de projetos espoliadores! Não aos serviços ambientais! Lutar contra REDD+ também é combater o capitalismo!

* Reafirmamos que lutar não é crime. Não à criminalização e extermínio dos povos que defendem seus territórios! Queremos um basta imediato no processo de criminalização das lutas e das lideranças.

* Exigimos que os governos municipais, estaduais e o governo federal cumpram com suas obrigações constitucionais e garantam os nossos direitos. Que possamos ter políticas públicas que, verdadeiramente, atendam e respeitem as nossas necessidades e  especificidades. Isto não é um favor, é um direito!

* Invocamos a proteção dos nossos encantados, os seres de luz, para continuarmos lutando contra os projetos de morte, que em nome do dito “progresso”, conhecido como agronegócio e hidronegócio, ataca e agride nossas comunidades, desrespeita  identidades culturais, ferem a Mãe Natureza e seus filhos e filhas. Lutaremos sempre por uma educação descolonial, não patriarcal, antirracista e libertadora, que nos leve a concretizar o nosso Bem Viver.

* Percebemos a necessidade e nos comprometemos em aperfeiçoar a prática da agroecologia nos nossos territórios, articulando saberes ancestrais com novos conhecimentos, usando tecnologias e formação política para o empoderamento popular. Nos comprometemos com a ampliação dos nossos bancos de sementes e viveiros de mudas, com o manejo e uso da agroecologia e biodiversidade em SAF’s (Sistemas Agro Florestais). Fortaleceremos modelos comunitários de produção, sem o uso de venenos e construindo uma grande Teia de tecnologias sociais, onde a camponesa e o camponês, com seus saberes tradicionais, são fundamentais para garantir a soberania dos povos em suas terras.

* Firmamos nossa atuação com as diferentes gerações e nos comprometemos com a educação para a rebeldia e desobediência; com a formação política e vivências comunitárias para nossas crianças e jovens; e com o enfrentamento das opressões contra as mulheres, a população negra, indígena e LGBT, no campo e nas periferias das cidades.

* As mulheres da Teia reafirmam a necessidade da consolidação de um modo de atuação que garanta a organização autônoma de seus espaços, fortalecendo o enfrentamento da opressão de gênero no campo e na cidade.

* A Teia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica sente a necessidade e a importância de articular com outros povos, por isso se faz necessário a vinculação com a Via Campesina, agregando nossas ações aos povos do mundo e colaborando com o avanço da luta no estado da Bahia, tão fragmentada por disputas mesquinhas, quase sempre conduzidas pelas disputas partidárias.

* Nos comprometemos em continuar a nossa jornada unid@s, partilhando os nossos saberes, construindo coletivamente nossos sonhos, protegendo as nossas sementes, organizando em mutirão as nossas lutas, exigindo com responsabilidade e de forma propositiva os nossos direitos, transformando os nossos espaços em territórios sagrados, semeando sementes de esperança para colhermos frutos de vida e plenitude, retirando e impedindo o uso de venenos e agrotóxicos não só da terra, mas de nossa convivência, para podermos saborear num futuro bem próximo um chocolate amargo-doce, resultado de uma corrente de diferentes elos unidos e entrelaçados por um único ideal: O DE AVANÇAR! DIGA AO POVO QUE AVANCE... AVANÇAREMOS!

É preciso resistir para EXISTIR!


Assentamento Terra Vista - Arataca (BA), 07 de dezembro de 2014