sábado, 21 de dezembro de 2013

O fim da II Jornada é só parte do começo


Os quatro dias da II Jornada de Agroecologia da Bahia se constituíram como um importante passo na constante luta por território e pela saúde da terra e dos povos da Cabruca e da Mata Atlântica. A diversidade de grupos, movimentos sociais, idades, tradições e raças fez do evento um espaço vivo de troca de saberes e articulações que ultrapassam o Assentamento Terra Vista (MST), em Arataca, local que recebeu a Jornada entre os dias 12 e 15 de dezembro.

Foi visível a forte presença da juventude e das mulheres, que mobilizaram discussões e atividades em todos os espaços, pautando temas que servirão para novos debates em suas comunidades. As oficinas, salas de diálogo e plenárias foram a base para a discussão política. Mas até mesmo as apresentações culturais e as conversas durante as refeições culminaram em aprendizados e novos elos para a Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Atlântica, rede responsável pela organização do evento.


Como documento final, foi escrita, de forma coletiva, a Carta da II Jornada de Agroecologia da Bahia, que sintetiza as reivindicações daqueles que acreditam na agroecologia como instrumento de soberania e autonomia do povo. Além da carta, foram sistematizadas relatórias que vão encaminhar demandas para atividades da Teia durante 2014 e para a III Jornada. 

“A Teia me trouxe o entender mais no caminho, já senti vontade de desistir. Mas agora, a Jornada me deu a clareza e a amplitude de como continuar e aprender com as diferenças e os saberes de cada um “, lembrou emocionada Mayne Santos, da Teia. Antes da leitura da Carta durante a última plenária da Jornada, Say Adinkra (Teia/Rede Mocambos), lembrou a importância da organização do movimento: “A gente tem que aprender mais do que atacar. A Teia é algo ousado e precisamos de disciplina. O que está em jogo agora é a forma como vamos organizar as coisas”. 


Durante a Jornada, atividades não programadas surgiram e deram mais sentido ao encontro. O plantio de baobá e a troca de sementes foram alguns desses momentos, onde pessoas de várias cidades e estados puderam levar para suas comunidades sementes crioulas que vão germinar não só plantas, mas também os ideais agroecológicos. No fim da Jornada, Cacique Nailton (Pataxó Hã-hã-hãe) reafirmou a continuidade da Jornada, em especial pela juventude: “Isso aqui é uma escola de lideranças. Tem horas que a luta é pesada, mas não podemos esmorecer”.

Uma das moradoras do assentamento Terra Vista, Solange Santos, sintetizou o que foi a II Jornada, “vocês estão vendo esse assentamento assim bonito, é preciso lembrar que nada aqui foi feito sozinho, por um ou por dois. Esse assentamento é fruto da luta do MST, uma luta coletiva. Porém nós percebemos que sozinhos não vamos conseguir chegar a onde queremos. Por isso convidamos a todo mundo. Nossa luta é longa, por isso esse evento se chama Jornada, ela tem continuidade, a Jornada é só uma parte do começo.”

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Rede Mocambos planta muda de baobá no Terra Vista

No domingo de encerramento da II Jornada de Agroecologia da Bahia, dia 15, o Assentamento Terra Vista recebeu de presente da Rede Mocambos o plantio de uma muda de baobá. A árvore, símbolo da ancestralidade e da resistência africana, foi plantada próxima a um pé de pau brasil, com a participação de várias pessoas presentes na Jornada e com a benção de cacique Nailton e Dona Maria, indígenas da etnia Pataxó Hã-hã-hãe.










Carta da II Jornada de Agroecologia da Bahia



Os povos do campo e da cidade, reunidos na II Jornada de Agroecologia da Bahia, no Assentamento Terra Vista, em Arataca, Território Litoral Sul, entre os dias 12 e 15 de dezembro de 2013, uniram povos e saberes para a defesa irrestrita da agroecologia enquanto um modo de vida e um instrumento para conquistar a soberania de nossos territórios. 

Lamentamos o não reconhecimento e apoio digno do Estado Brasileiro para com a agroecologia e com a luta de nossos povos, cuja vida perpassa permanente criminalização, risco e extermínio. O Estado Brasileiro, sustenta uma estrutura baseada na exclusão social, quando este financia e apoia o êxodo rural, fomentando pobreza e violência para servir aos interesses do capital, o que distorce seu papel de proteção e garantia de dignidade de seus povos. 

O sistema de produção do campo imposto pelo capitalismo, o agronegócio, nos violenta a cada dia e não para, ele acumula um histórico de extermínio cultural e territorial, se apropriando de nossos saberes, de nossa ciência e de nossa cultura para fins de dominação, seja transformando tudo em produtos para a indústria e o mercado, seja ridicularizando e espetacularizando a nossa diversidade. 

A II Jornada é resultante da consolidação da Teia de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica, formada na I Jornada em 2012, para atuar de forma permanente enquanto uma rede que reconstrói a solidariedade entre os povos negros, indígenas, assentados, juventude e crianças e dá um sentido mais amplo à agroecologia, tão distorcida pelo excesso de academicismo, teoricismos e tão pouca prática. Nós, da Teia, rompemos o tecnicismo perigoso para defender uma agroecologia que une os povos e saberes para garantir saúde para nossos alimentos, solos e águas, saúde para as nossa relações sociais, para nossa identidade cultural, espiritualidade e ancestralidade. 

Estamos construindo uma forma de organização entre os povos que busca autonomia política e financeira, através das ações de fortalecimento das experiencias agroecológicas em cada território que compõe a Teia, na busca de autogestão e do autofinanciamento. Estamos trabalhando para atuar adequadamente levando em consideração as especificidades de nossas crianças, jovens, homens, mulheres e idosos. Mas não teremos como conquistar essa saúde e autonomia, que representa na verdade novas formas de vida, política e militância, sem garantir nossos territórios e a vida de nosso povo e nossas lideranças. 

A agroecologia então, é também uma forma de enfrentamento desse sistema e a Teia se propõe a ter ações solidárias diretas de defesa de nossos povos. Assim, nossa luta segue o caminho irrestrito de defesa da garantia da terra e por uma soberania dos povos que sabemos que só pode ser feita a partir de nosso suor. 

Nossa Jornada e nossa Teia renova nossas utopias e nosso poder de seguir: “Nada do povo, para o povo, acima do povo, sem o povo!” 

Arataca, Bahia, 15 de dezembro de 2013

sábado, 14 de dezembro de 2013

Luta pela terra marca as discussões da plenária de sábado

A plenária da noite de sábado, 14, iniciou com a consagração e a dança do toré puxada pelos indígenas Pataxó Rã Rã Rãe. Em seguida, TC Silva, da Casa de Cultura Tainã, homenageou Joelson Ferreira (Terra Vista) e o cacique pataxó Nailtom com mudas de baobá, árvore africana que é símbolo da Rede Mocambos e instrumento do projeto Rota dos Baobás, que leva mudas e trabalha a comunicação livre em comunidades quilombolas. Com toda a plenária, TC puxou em coro o canto africano: “Tô voltando pra casa com um pé de baobá, tô voltando pra casa com um baobá”.


“O baobá é um dos símbolos internacionais da resistência e da união dos povos. Vamos plantar baobá pra marcar nosso território”, comentou Jorge Rasta, da Casa dos Bonecos. Em agradecimento, o cacique pataxó Nailtom chamou atenção para o cuidados com as florestas, em especial a Amazônia, e com a educação ecológica das crianças. Citou também as ameaças que as lideranças de resistência, como indígenas, assentados e quilombolas, têm sofrido. “Eles querem ver a gente cair, mas já foi descoberto que com união ninguém derruba a gente não. Vocês jovens são nossos guerreiros de amanhã”.

A indígena Pataxó Rã Rã Rãe Dona Maria comentou a importância da organização entre os movimentos de luta e da firmeza que a militância precisa manter diante das ameaças: “O abraço apertado é uma fortaleza. Nós pequenos é quem temos que nos organizar e se preparar para um caminhar firme. Essa luta é de todos nós. Esse assentamento aqui, por exemplo, é de todos vocês. Sabemos que os guerreiros sempre são mal vistos, mas a luta é assim”. Depois, puxou um canto indígena de força para espantar as más energias e chamar a paz para a II Jornada de Agroecologia da Bahia.


Iniciando as falas da mesa da Plenária, a estudante Fernanda, do Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias, focou em sua fala as práticas agroecológicas realizadas pelos camponeses e lembrou a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, puxada pela Via Campesina. Citou também a opressão sofrida pelas mulheres no agronegócio, que, segundo ela, condiciona a divisão de gênero do trabalho: “Espero que nosso exército cresça e leve a agroecologia para as universidades, para as escolas públicas e privadas”.

Dayane, do Grupo de Ação Interdisciplinar em Agroecologia (Gaia), comentou sobre a formação do grupo, que surgiu como inicativa de estudantes da Universidade Federal do Recôncavo Baiano. “Nossa universidade, como todas, carrega as suas contradições. Percebendo que ela não estava servindo ao povo, a gente se uniu pra tentar levar pra universidade um debate além do que eles passam pra gente. Nós nos negamos a ser profissionais que reafirmam a política de opressão contra o povo do campo”.


O mediador da mesa, Diego Cogu, do NEPPA, comentou: “A agroecologia é uma questão de vida ou morte, ou a gente entra pra ela e constrói um novo modelo de desenvolvimento ou não haverá humanidade daqui a alguns anos”. Calango, do Movimento de Luta pela Terra (MLT), falou um pouco sobre a história do movimento, que surgiu na região cacaueira de Itabuna, e também defendeu a agroecologia como ferramenta para auxiliar as futuras gerações: “Nosso movimento busca se refazer sabendo que sem agroecologia e sem o desenvolvimento sustentável não haverá avanço na reforma agrária de forma qualitativa, que é como a gente quer”.

A última fala da Plenária de sábado começou simples e direta: “Quero dizer pra vocês que eu sou preto, mas sou livre”, exaltou Elder, do Ecobahia. Que seguiu com uma forte crítica ao Estado e às universidades que ignoram ações coletivas e sociais, principalmente na área de Agroecologia. “Não cabe mais no mundo de hoje as conquistas individuais. As conquistas individuais não mudam o mundo. Vocês que estão na academia tem que pensar nisso”.

Elder, assim como várias falas da mesa, também lembrou a resistência do Cacique Babau, que luta há anos pela retomada de terras dos indígenas tupinambá, mesmo sofrendo opressão do Estado e dos fazendeiros latinfundiários. “Nós todos temos falhas e problemas, mas nosso maior problema é ajoelhar e cruzar os braços", finalizou Elder. 

Manual de Certificação Orgânica

A Associação Certificadora de Áreas, Defesa do Meio Ambiente e Produtores Orgânicos da Bahia (ACPOBA) realizou durante a II Jornada a Oficina de Certificação Participativa para produtos da Agricultura Familiar, mediada pelo presidente da associação, Edilson Silva.

Como forma de contribuir ainda mais para as articulações, a ACPOBA disponibilizou  o Manual de Certificação, com "normas e procedimentos para o padrão de qualidade orgânico. Compartilhem!


Clique aqui e acesse o Manual. 
 

Para saber mais sobre a ACPOBA, acesse: acpobaorganico.blogspot.com.br.

Plenárias reúnem pautas e discussões sobre agroecologia e movimentos sociais

As discussões coletivas da II Jornada de Agroecologia da Bahia iniciaram no primeiro dia do evento, quinta-feira (12), com as salas de diálogo temáticas. A partir dos encaminhamentos e das reuniões diárias entre os participantes, as discussões seguem e se consolidam nas plenárias, realizadas pela manhã e nos fins de tarde de cada dia da jornada. É um momento de ouvir e compartilhar ideias e pensamentos para o fortalecimento das redes entre os povos e grupos que lutam e constroem um novo modo de desenvolvimento: sustentável, coletivo, colaborativo, solidário, agroecológico, autônomo e livre.


Antes das plenárias,os cortejos, cirandas, danças circulares e torés da etnia indígena Pataxó Rã Rã Rãe abrem o caminho e limpam as energias para o prosseguimento da troca de saberes que emana nas discussões. A plenária da tarde de sexta-feira, 13, trouxe para a II Jornada a importância da apropriação popular sobre os meios de comunicação e tecnologias sociais, entendo a ligação direta da comunicação com a agroecologia e com a luta pela terra. Abaixo, algumas das falas que marcaram a mesa da plenária de sexta-feira.

A estudante de agronomia Quênia Barreto, do Grupo de Ação Interdisciplinar em Agroecologia (GAIA – UFRB), destacou a formação da Brigada de Audiovisual/Comunicação, que desde a I Jornada trabalha para divulgar as ações realizadas pelo evento e pela Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica. “Queremos levar o que acontece aqui para o mundo, sempre pensando na união e na elevação dos saberes trocados. E quem quiser, pode vir se integrar à Brigada também”.


A fala de TC Silva, da Rede Mocambos/Casa de Cultura Tainã, levantou os ânimos ao elevar a apropriação do conteúdo e do controle da comunicação como estratégia política de resistência. “Assim como o assentamento é um território livre, devemos também construir nossos territórios livres no meio digital. A terra, a água e a comunicação são os principais alvos do dominador. Precisamos ficar atentos com a colonização que ainda resta em nós, para sabermos como nos libertar”.

Jô Machado, da Casa de Economia Solidária de Serra Grande, trouxe para a roda uma das bases da Economia Solidária, que é a formação das redes como espaços de troca e disseminação das ações coletivas que resistem à dominação dos meios de produção capitalistas: “A economia solidária é inclusiva e participativa, ela melhora o empoderamento e fortalece os 'pequenos'. 90% da população brasileira é considerada pobre. Devemos pensar nos motivos que nos levaram a deixar se dominar por esses 10%”.

“Nós chegamos num estágio do poder capitalista onde não cabe mais reforma”. É com essa fala que Joelson Ferreira, do Assentamento Terra Vista (MST), chamou a atenção para algumas ações que, segundo ele, devem ser executadas pelos movimentos que lutam pela liberdade e pela terra. “Não podemos pensar no voto como poder popular. Temos que construir nossas forças de defesa, conectar ainda mais as pequenas ações e unificar os projetos para romper com o latifúndio da educação”. Lembrou ainda a importância de aprender com a floresta, dando o exemplo dos catitu, porco da mata que, por andar em bando, sobrevive à dominação das onças. “Temos que ocupar, produzir, resistir e educar. Não há outro caminho”, finalizou Joelson.


Durante a plenária, o Mestre Lua de Santanas foi homenageado pelo Assentamento, em agradecimento à sua contribuição à Jornada e à construção do forno de barro em bioconstrução, que mobilizou mutirões de trabalho durante toda a semana. A fala do Mestre veio com um corrido de capoeira, que saudou as mães das Oxum e Iemanjá, destacando a importância da conservação das nossas águas: “Chamo Mamãe Oxum, chamo Mãe Iemanjá. Uma que mora na beira do rio e a outra que mora no fundo do mar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Salas de conversa marcam o 1º dia da II Jornada de Agroecologia

A quinta-feira, dia 12, deu início à II Jornada de Agroecologia da Bahia, permeada de rodas de conversa entre os participantes. Os grupos se reuniram durante a manhã e a tarde, com o objetivo de gerar encaminhamentos e fortalecer a articulação entre os povos presentes e a Teia de Agroecologia.
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Sala Economia Solidária, fomento de produtos agroecológicos e organização em rede Contribuições sobre experiências de Rosa Penzza (Instituto Jupará) e Casa da Economia Solidária (Serra Grande).



 Sala Educação do Campo e Agroecologia, com a facilitação José Carlos Evangelista. Contribuição: Casa do Boneco, CEEP Milton Santos, NEPPA.



Sala Sagrado Feminino. Discussões e pautas sobre partejar, ervas sagradas, atuação política e social da mulher, dificuldades e Teia. Facilitação: Ludimila (Casa Púrpura) + Elo TEIA. Contribuição: Heloísa, mestras indígenas, GAIA, Encanto da Sereia.




Sala "Terra Pra Quê?". Facilitação NEPPA. Contribuições: GAIA.




Sala Segurança Alimentar (PAA, PNAE). Facilitação: Ecobahia (Xixa e kaká) e Diego (NEPPA).Contribuição com experiências: CETA PAA Jovem.


Chamadas para a II Jornada

Chamada gravada com as crianças do Assentamento Terra Vista, durante o ensaio de maculelê e dança afro.


Vídeo-Convite para a II Jornada, feito com a Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica.



Conheça o Assentamento Terra Vista

Desde a sua primeira edição, realizada em 2012, a Jornada de Agroecologia da Bahia escolheu o Assentamento Terra Vista, em Arataca, como sede. Fruto da luta pela reforma agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Assentamento foi fundado oficialmente em 1994, mas a ocupação da terra, que fica às margens da BR 101, iniciou em 8 de março de 1992, como homenagem ao Dia Internacional das Mulheres.

Com 913,6 hectares e 55 famílias assentadas atualmente, o Terra Vista é referência em preservação ambiental, agroecologia e produção de mudas de espécies da Mata Atlântica, como Jacarandá, Ipê Amarelo, Pau-Brasil, Jatobá e Cedro. Desde o início da ocupação, foram recuperados 90% da mata ciliar do Rio Aliança, que passa pelo assentamento, além da manutenção de 34% da reserva legal da área, que fica no entorno da Unidade de Conservação do Parque Nacional Serra das Lontras.

O Terra Vista possui psicultura, cultivo de frutíferas e hortaliças, reconhecidas como Produção Orgânica pelo IBD Certificações, e um viveiro que produz 150 mil mudas por ano. É também referência na produção de cacau orgânico. Conversando com os assentados, é fácil escutar histórias de luta, autonomia e fé. Seu Edvaldo, assentado desde 1995, é um dos agricultores que aprenderam a cultivar orgânicos e vivem unicamente do que é produzido no Terra Vista:

“Quando cheguei em 1995 isso aqui era horrível, eu mesmo fiquei duvidoso. Mas quem chama Deus não cansa. Deixei o patrão e a fazenda que eu trabalhava e vim pra cá. Como é um assentamento construído com luta, optamos por confiar nos orgânicos. Foi aqui que aprendi a plantar assim. Crio meus filhos e meus seis netos no assentamento. Isso aqui é lugar pra viver”. 

Seu Edvaldo durante a II Jornada

Odete Silva de Jesus, conhecida como Dona Dete, é uma das assentadas e militantes mais antigas da agrovila do Terra Vista. De Ilhéus, a convite da irmã deixou o trabalho de lavadeira e faxineira, em 1993, para trabalhar no campo e criar os filhos e netos no assentamento. Hoje, aos 63 anos, relembra as dificuldades e se alegra pelas batalhas vencidas:

"Peguei minhas roupas e minhas panelas e vim morar aqui, quando ainda era tudo mata. Passamos muito dificuldade pra chegar onde chegamos. Teve época que a gente só tinha jaca verde pra comer, além dos cinco despejos que a gente já recebeu. Muitos desistiram, mas outros ficaram e hoje temos toda essa riqueza. O ar livre das árvores e dos passarinhos é o meu remédio.  Só saio daqui quando eu morrer mesmo."

Dona Dete na varanda de casa

Além do trabalho no campo, o Terra Vista tem a Educação como foco de transformação socioambiental. Lá, funcionam dois centros educacionais com cursos do ensino fundamental, profissionalizantes e de nível superior, inclusive pós-graduação na área de Agroecologia. Mais de 800 pessoas, entre assentados, comunidade de Arataca e de outras regiões estudam no Centro Integrado de Educação Florestan Fernandes e no Centro Estadual de Educação Profissional no Campo Milton Santos.

Terra Vista em meados dos anos 2000:


Terra Vista atualmente, após as práticas, cultivos e manejos de Agroecologia:



No vídeo abaixo, assentados contam histórias sobre a formação do Assentamento Terra Vista:



Saiba mais:




quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Programação da II Jornada de Agroecologia da Bahia


Salas de Conversa - 12 de dezembro

Salas de conversa para debater alguns temas levantadas neste processo de construção relâmpago.

Sala 1
Projeto Célula: oficina de apresentação de dados Projeto Território Litoral Sul
Facilitação: Allan – Instituto Cabruca
Público: representantes do Território Litoral Sul e interessados;

Sala 2 – Sala Terra/Território para quê
Facilitação NEPPA
Contribuições: GAIA

Sala 3 – Economia Solidária, fomento de produtos agroecológicos e organização em rede
Facilitação: a decidir
Contribuições sobre experiências: Rosa Penzza (Instituto Jupará) e Casa da Economia Solidária (Serra Grande);

Sala 4 – Segurança Alimentar (PAA, PNAE)
Facilitação: Ecobahia (Xixa e kaká) E Diego (NEPPA)
Contribuição com experiências: CETA PAA Jovem
obs: esta mesa é um preparativo para oficina prática de elaboração de projetos PAA e PNAE que tmb será mediada pelo Ecobahia

Sala 5 – Sagrado Feminino – pauta das mulheres de partejar, ervas sagradas, mulher, atuação da mulher, dificuldades e teia;
Facilitação: Ludimila (Casa Púrpura) + outro elo TEIA
Contribuição: Heloísa, Mestras indígenas, GAIA, Encanto da Sereia

Sala 6 - Educação do Campo e Agroecologia
Facilitador: José Carlos Evangelista
Contribuição: Casa do Boneco; CEEP Milton Santos, NEPPA

Sala 7 – TEIA e Lideranças – lideranças de povos, movimentos e segmentos instituições que compõem a TEIA e lideranças convidadas (1 representante de cada grupo, segmento, movimento ou povo).
Facilitação: Claudio Lyrio - Instituto Cabruca
Contribuição: Casa do Boneco, NEPPA



Oficinas - 13 e 14 de dezembro

1. Construindo o Solo - Hermano Penalva
2. Recuperação em Área degradada e Poda alta em Sistemas Agroflorestais Rodrigo Alberto Lopes NEAP/UFG- Eduardo Correia/Ecobahia
3. Bioconstrução com super adobe - Danilo Ferreira Rezende - NEAP/UFG
4. Biossistemas de tratamento de esgoto - Paulo Roberto da Silva Gonzaga - NEAP/UFG
5. Coleta de água da chuva. Bioconstrução de Ferrocimento - Murillo Georgio Pereira - NEAP/UFG
6. Construção e Implantação de viveiro – Assentamento Terra Vista / MST
7. Cacau: da Produção ao Beneficiamento - Assentamento Terra Vista / MST
8. Saberes Indígenas: Cremes, Tinturas e Aromáticos - Tribo Pataxo – Pau Brasil
9. Defensivos Biológicos e Biofertilizantes – Assentamento Terra Vista / MST
10. Biofertilizantes e Controle de Pragas Assentamento Terra Vista / MST
11. Produção de tapetes Assentamento Terra Vista / MST
12. Bioconstrução: filtro de água – Oca da Minhoca/Mestre Lua
13. Manejo Agroecológico do Cacau – Instituto Cabruca
14. Qualidade do Cacau Fino – Instituto Cabruca
15. Oficina de PAA e PNAE - Instituto Ecobahia
16. Coleta dos resíduos JORNADA e Compostagem – CEEP Milton Santos
17. Oficina de Defumados - CEEP Milton Santos
18. Calda Agroecólogico – CEEP Milton Santos
19. Reciclagem - CEEP Milton Santos
20. Produção de Doces - CEEP Milton Santos
21. Agitação e Propaganda - NEPPA
22. Construção de Biodigestor – EAC Margarida Alves
23. Dança Popular – Encanto da Sereia
24. Reutilização de PNEUS (móveis) – Ecobahia com convidado Artur
25. Oficina Cultura Afro: estética, dança e diálogos – Casa do Boneco
26. Canto e Danças Circulares: Heloísa (9h às 12h – Dia 13)
27.Graffiti e Stencil - Leo Pessoa

28. Teatro e Maquiagem – Camila Santana – Dia 12 de dezembro
29. Sabão Ecológico - Mestra Socorro / Ilhéus 
30. Oficina de Certificação Participativa para produtos da Agricultura Família - Edilson Silva / OCPOBA
 

Preparativos para a II Jornada marcaram os dias 10 e 11 de dezembro

A II Jornada de Agroecologia da Bahia teve início antes mesmo da programação oficial, marcada de 12 a 15 de dezembro de 2013. Durante toda a terça e quarta-feira, dia 10 e 11, os preparativos já davam clima de evento ao Assentamento Terra Vista. Mulheres, homens, crianças e jovens trabalharam coletivamente em mutirões de limpeza e roçagem, reuniões de articulação, quebra de cacau, cozinha, ensaios e início da construção de um forno de barro, feito com técnicas de bioconstrução.



Uma das atividades que mobiliza mais pessoas é a construção de forno, direcionada pelo Mestre Lua de Santana. Feito em bioconstrução e reaproveitando resíduos como garrafas de vidro, o forno servirá como suporte para a cozinha do Assentamento Terra Vista, possibilitando o preparo de pães, pizzas e outros pratos que alimentarão os inúmeros mutirões que ainda vêm por aí. 


Pela manhã, as crianças e jovens do Assentamento ensaiaram toques e uma coreografia de dança afro e maculelê, que será apresentada durante a programação cultural da Jornada. Na parte externa, embaixo do pé de jambre que colore o jardim central do Assentamento, participantes ensaiavam a mística que marcará a abertura oficial da Jornada, a ser realizada na tarde dessa quinta-feira, dia 12.


Ainda na quarta-feira, já começavam a chegar grupos de vários lugares da Bahia, do Nordeste e de outros estados do País. Os acampamentos aos poucos se formaram e o encontro e reencontro entre os participantes continuou até à noite, com fogueira e cantoria. Tudo isso, marcando apenas o começo do que se estende por hoje, pelo fim de semana e pela continuidade das ações que serão encaminhadas na Jornada que une os povos da Cabruca e da Mata Atlântica.







II Jornada de Agroecologia da Bahia

De 12 a 15 de dezembro acontece a II Jornada de Agroecologia da Bahia. O evento é uma realização da Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica e será sediado no Assentamento Terra Vista (MST), em Arataca (BA). A partir do tema “AGROECOLOGIA: ações agroecológicas para o empoderamento comunitário”, a Jornada contará com rodas de conversa, oficinas e a plenária que resultará em um documento final com orientações para a agenda de atividades da Teia em 2014.

A II Jornada de Agroecologia da Bahia busca, a partir das demandas e potencialidades identificadas no Litoral Sul do estado, auxiliar o desenvolvimento sustentável e socioeconômico e o empoderamento dos povos e comunidades tradicionais residentes nesse território. São esperados cerca de 500 participantes, entre indígenas, mestres de tradição oral, quilombolas, movimentos sociais, assentados, estudantes, pesquisadores e profissionais em Agroecologia.

As oficinas temáticas abordarão temas como manejo, uso de tecnologias agroecológicas, Sistemas Agroflorestais (SAfs), agricultura familiar, permacultura, cacau orgânico, formação cultural, saberes ancestrais, segurança alimentar, saúde, entre outros. Com o objetivo de fortalecer a identidade e a cultura tradicional, durante o evento também serão realizadas atividades artísticas, como ciranda, oficina de alfaia e roda de capoeira, além de vivências voltadas para as crianças do assentamento e das famílias participantes.

Como espaço de reflexão e troca de saberes, a Jornada busca ainda fortalecer a criação de propostas, ações continuadas de formação e ampliação do conhecimento sobre a importância da Agroecologia, da territorialidade para a vida, da organização popular e do desenvolvimento da qualidade de vida dos povos e comunidades tradicionais da Bahia.


SERVIÇO 

II Jornada de Agroecologia da Bahia
Local: Assentamento Terra Vista, Arataca-Bahia.
Dia: 11 (chegada, inscrições, acampamento para as brigadas) a 15 de dezembro de 2013
Inscrições: migre.me/gXGCx 
Informações: jornadadeagroecologiadabahia@gmail.com / 73 9819-0706 / 71 9374-2037
Fanpage: www.facebook.com.br/jornadadeagroecologiadabahia 
Acomodação: Serão disponibilizados espaços para acampamento. Os participantes devem trazer barracas, colchões, cobertores e materiais de uso pessoal.

Jornada na Aldeia Caramurú Catarina Paraguaçú: É a Teias no Trecho


Prezad@s parceir@s e Elos da Teia,

Nos dias 22, 23 e 24 de março de 2013 a TEIA AGROECOLÓGICA DOS POVOS DA CABRUCA E DA MATA ATLÂNTICA realizou mais uma ação. A atividade ocorreu na Aldeia Caramuru Catarina Paraguaçu, município de Pau Brasil - Bahia.


O acampamento foi montado no dia 22 à noite. Nos dias seguintes ocorreram as seguintes atividades: aimplantação de viveiro, com as mudas doadas pelo Assentamento Terra Vista (MST) e as mais de 6 mil mudas doadas pela Biofábrica (mudas de açaí, palmito, cacau, banana, cana de açúcar, ingá, etc.), construção de 2 banheiros secos, preparo da área para plantar, na implantação de uma área demonstrativa de SAF (com bananeiras, ingás, milho, feijão etc), na construção de tambores de percussão e na limpeza e coleta de adubo no curral.


Nessa ação contamos com a participação de diversas instituições, segmentos e profissionais: Tupinambás de Olivença da Serra do Padeiro, Pataxó Hã Haa Hãe (nossos anfitriões), Assentamento Terra Vista, Curso de Agronomia (MST), Ecobahia, Casa do Boneco, Quilombo Lagoa Santa, NEPPA, MPA, Associação Comunidade Ativa (ACATI), Mestre Lumumba, Mãe Nadja, a bióloga Quionat Tosta, a professora de Danças Circulares, Heloísa, a Terapeuta e parteira, Val Rocha, Cauê Rocha (estudante de cinema da UFRB) e divers@s colaboradores. Totalizando uma média de aproximadamente 200 participantes voluntários.

 


A ação foi considerada exitosa e proporcionou um fortalecimento da rede que se formou após a I Jornada, oportunizou formação prática do processo colaborativo (quem pode levou alimentos, sementes, ferramentas, mudas etc.), serviu como base para o aprimoramento do conhecimento agroecológico, permitiu que os indígenas renovassem a esperança na possibilidade de melhoria do uso da terra e colaborou para fortalecer a identidade e cultura dos povos presentes.

Entretanto, o diagnóstico realizado da Aldeia, um recorte dos 54 mil hectares das terras indígenas, identificou que a terra está bastante degradada após os muitos anos de utilização pelos ex-proprietários (fazendeiros) dessa terra para criação de gado. Além disso, outra questão que impacta diretamente na ampliação da produção agrícola e da melhoria de vida dos índios que residem nessa área é a pouca água potável de fácil acesso aos índios. Nota-se ainda que a colonização portuguesa deixou marcas que perduram até hoje nas tradições indígenas e na perda de algumas práticas tradicionais.


Contudo, é notável o desejo desse segmento em implementar as práticas agroecológicas em sua comunidade, fortalecer a identidade, cultura e resgatar as tradições . Todavia, é necessário uma ação continuada que auxilie na restauração florestal, na implantação de SAF, criação de quintais produtivos, na soberania alimentar, no empoderamento da comunidade entre outros. Para isso, é necessário um suporte técnico maior do que a TEIA já está oferecendo, ampliação do viveiro, na, criação do banco de semente, suporte financeiro para que estes possam adquirir ferramentas, insumos e outros instrumentos necessários para a ampliação das práticas agrícolas, formação e construções a partir da bioconstrução (tanques de captação de água da chuva, biodigestor etc.), formação continuada para jovens e crianças voltada para agroecologia, fortalecimento identitário e organização social.

Apesar, de compreendermos que muito ainda temos que caminhar, cada atividade que vivenciamos nos fortalece como TEIA colaborativa que acreditam nos diferentes saberes e que sabe que o caminho é continuar firme nessa jornada coletiva, colaborativa e solidária. Assim, agradecemos aos esforços individuais e coletivos dos diversos Elos dessa TEIA que fizeram dessa ação possível, PAA Ituberá, PAA de Itacaré, a Prefeitura de Camacan, a prefeita Angela Castro pelo auxílio e a ADESCT de Pau Brasil.

Fotos: O Sonho; Ritual antes dos trabalhos; Tecendo o Sonho. 


Fotos no facebook: facebook.com/jornadadeagroecologiadabahia

Outras informações: casadoboneco.blogspot.com.br/2013/03/terra-agua-folha-ar-pena-e-axe-teia-no_2512.html

Agenda de Planejamento 2013 da Jornada de Agroecologia - Território Litoral Sul


Entre os dias 21 e 23 de fevereiro de 2013, no Assentamento Terra Vista, município de Arataca, Sul da Bahia, a Jornada de Agroecologia seguiu seus primeiros passos no ano de 2013, cumprindo a proposição de trabalho em rede. A Jornada, iniciada em novembro 2012, com um grande evento, se propôs a ser uma caminhada permanente com o desafio de articular diversos movimentos do campo e da cidade para em rede, por em prática a agroecologia como um princípio de existência e sustentabilidade.

Assentamento Terra Vista, Aldeia Caramuru Paraguaçú, Aldeia Tupinambá de Olivença, Aldeia Tupinambá de Serra do Padeiro, Casa do Boneco de Itacaré, Instituto Eco Bahia, Associação Comunidade Ativa (ACATI), Centro de Agroecologia e Educação da Mata Atlântica (OCA) e as ilustres presenças de Mestre Lumumba (SP) e Mestre Lua Santana (Chapada Diamantina), crianças, tambores, debates, chuva, lua, rio, fogueira, cantigas, rodas de conversa, deram o “tom” do evento da Rede no desafio de construir uma Agenda de Planejamento da Jornada, assim como iniciar as definições básicas da atuação da rede.

O evento foi iniciado com um grande debate de análise de conjuntura. Mestre Lumumba traçou uma importante linha histórica para defender que tão importante quanto sabermos de onde viemos, é saber conhecer contra quem estamos lutando. Nesse sentido, a fala do mestre percorreu as Cruzadas, as estratégias de extermínio do povo indígena, a educação que fragmentou o conhecimento e a relação dos mais velhos com os mais novos e uma dura crítica ao Estado Brasileiro: “Se você é europeu ou da classe dominante, precisa de 5 anos para fazer uso capião da terra. Nós estamos há 5 mil anos (os índios) e não temos direito, o quilombola está há 300 anos e não tem direito...”.

A liderança indígena Célia, professora e moradora da aldeia Tupinambá na Serra do Padeiro, tratou da visão da mulher indígena e negra em relação à luta pela posse de terras e na vida cotidiana de sabedoria e luta do povo indígena. Já o companheiro Joelson do MST, ressaltou a importância de 3 frentes organizativas: de mulheres, de jovens e da produção: “Essa é uma sociedade velha, chegando ao fim. Temos um papel fundamental em reencantar o mundo. Nossa dificuldade em se unir foi plantada historicamente..”.

Em sua intervenção, o Cacique Nailton relatou as vivências na sua aldeia, ressaltando o quanto é importante o cuidado espiritual, que está ligada a força dos orixás, caboclos ou encantados. Fez um paralelo entre formação e educação, enfatizando o quanto é importante se distanciar um pouco mais das novas tecnologias e valorizar as técnicas artesanais transmitindo aos mais jovens, principalmente no que diz respeito ao cuidado desses povos com a saúde, sendo que a natureza dispõe de todos os produtos necessários para promover curas, a chamada farmácia viva.

 A discussão de Rede, conduzida pelo Instituto Eco Bahia, trouxe uma reflexão sobre o quanto a sociedade do consumo dispõe de uma tecnologia para confortos desnecessários com repercussão no impacto ecológico e desrespeito aos ancestrais. Segundo o companheiro Calango: ‘’A natureza nunca diminui a vida, ela só aumenta a quantidade e a qualidade de vida daquele local. Se a natureza é biodiversa, ela traz variedades de harmonia para o ser humano. A gente não precisa aprender nada, tudo o que a gente precisa saber da natureza ela mesma ensina’’.

A Rede, que a Jornada de Agroecologia deu início, tem uma atuação inicialmente focada no território Litoral Sul como espaço piloto para iniciar as ações colaborativas e coletivas entre povos indígenas, quilombolas, assentados e pequenos agricultores. O trabalho da rede segue para a Aldeia Caramurú Pagaraguaçú em Pau Brasil nos dias 23 e 24 de março e estará trabalhando para uma ação permanente de intercâmbio, trocas de práticas e saberes identitários, mobilização de jovens e mulheres, produção de alimentos saudáveis, comercialização e formações diversas.

Say Adinkra, articulação de Agroecologia

Texto feito com a colaboração da relatoria de Nátali Mendes e Ana Opará

Saudações Agroecológicas, Viva 2013!

"Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade." 

Cora Coralina

Carta da I Jornada de Agroecologia


Arataca, 01 de dezembro

Nós, os mais de quinhentos participantes da I Jornada de Agroecologia da Bahia, tupinambás, quilombolas, pataxó hã-hã-hãe, pataxó, assentados e assentadas, acampados e acampadas. Homens, mulheres, jovens e crianças, reunidos entre os dias 26 de novembro e 01 de dezembro de 2012, no assentamento do MST, Terra Vista, no município de Arataca, afirmamos o nosso compromisso com o modo de vida agroecológico.

Ao longo dos seis dias de jornada nos debruçamos sobre práticas agrícolas, educação, movimentos sociais, cultura, fortalecimento de Identidade e de luta popular, contextualizando-os com a agroecologia. Compreendendo que a agroecologia é mais que um modelo de técnicas agrícolas, pautamos o nosso evento nas mais diversas linguagens, não deixando de lado a necessidade de envolver as crianças e adolescentes na construção do mundo que queremos.

 Lamentamos o modelo antidemocrático, latifundiário, capitalista, oligárquico que ainda prevalece na Bahia e no Brasil, assim como a ausência de políticas públicas eficientes que contemplem a dignidade dos povos camponeses. Elencamos como problemáticas que dificultam a concretização da agroecologia: a precariedade da educação no campo e o fechamento de escolas no campo, o êxodo forçado da juventude camponesa, ausência de formação efetiva e contextualizada para os professores, a falta equidade de gênero, submissão do Estado ao grande capital, uso de agrotóxicos, inoperância de políticas públicas que permitam o escoamento da produção agroecológica, modelo de segurança pública pautado em uma tradição escravocrata de extermínio e opressão dos nossos povos, dentre outros.

Indignamo-nos com a incompetência e seletividade dos órgãos do governo estadual e federal em executar políticas públicas que garantam a titulação e permanência dos povos do campo e da floresta em seus territórios.

 Afirmamos então, nossa capacidade de resistência, apresentando com nossas vidas e nossos esforços nos aprendizados cotidianos, outra forma de desenvolvimento baseado no modelo agroecológico e de uma educação libertadora, construtora de outro modelo de pensamento, produzindo, trocando e comercializando alimentos de qualidade, sem agrotóxico, fortalecendo a organização, o associativismo, respeitando as diferenças étnicas, de gênero e geração, valorizando a cultura e a arte do nosso povo.

Comprometemo-nos em expandir a articulação e manter permanentemente mobilizada a Rede de Agroecologia organizada nesta jornada com o objetivo levar aos diversos territórios da Bahia a matriz agroecológica de produção e transformando em tradição a realização da Jornada de Agroecologia na Bahia como ponto de encontro, troca, ação e mobilização permanente dos povos.

 “Uma caminhada de passos largos e sem direção, é tempo perdido. Uma caminhada de passos curtos com objetivos, demora, mas um dia se chega lá.”

Grande toré encerra a I Jornada de Agroecologia da Bahia

Dança o povo negro 
Dança o povo índio  
Sobre as roças mortas de aipim  
Dança a nova tribo  
Dança o povo inteiro  

(Chico César) 

 
Um grande terreiro de danças, torê e tambores, arte e cultura, mudas e sementes. Um grande terreiros de sonhos, volta e meia uma lágrima, um arrepio, uma lembrança, uma vontade de sair daqui e começar a construir um outro mundo possível e urgente. Em seis dias de convivência, uma jornada de envolvimentos, aprendizagens e ensinamentos.


Dias de eternos agradecimentos, em cada mesa, cada oficina, o clima era de gratidão, de vontade de conviver, de aprender e de ensinar. Todos aqui tinham vez, homens, mulheres, jovens e crianças. De fato, a horizontalidade foi um dos pontos fortes da nossa Jornada. 



O encerramento foi cheio de homenagens, e mais uma vez os agradecimentos, poesias, músicas, utopia. Indígenas, quilombolas, trabalhadores e trabalhadoras sem terra, encenaram e reviveram mais uma vez a quebra dos grilhões, das correntes da escravidão, do preconceito, do latifúndio. 





Em uma só voz, declaramos:

“Considerando que os senhores nos ameaçam com fuzis e com canhões nós decidimos: de agora em diante temeremos mais a miséria que a morte." 

(Brecht)