Os Tupinambá
expulsaram do território todos os que estavam ofendendo o
meio-ambiente. Os que estavam pescando com venenos e acabando com a
vida do rio, os que estavam incendiando a mata. A Escola Estadual
Indígena Tupinambá da Serra do Padeiro conta com 663 alunos da
aldeia e da região. Há 25 nascentes no território. Devido ao
cuidado e ao reflorestamento por parte dos índios, o nível da água
do rio subiu dois metros e meio. Se os rios secam, os peixes não se
reproduzem. Os tupinambás, reflorestando áreas degradas, deixaram a
serra intacta. Na serra a cadeia alimentar está completa. Há um
equilíbrio, do qual a comunidade faz parte.
Os Tupinambás não
gostam de ver as pessoas humilhadas. O governo queria autorizar
apenas o atendimento de pacientes indígenas no posto de saúde.
Significa que se qualquer pessoa não índia necessitasse de
atendimento médico no território, não poderia ter acesso. Os
tupinambás não se conformaram, lutaram e hoje qualquer pessoa pode
ser atendida no posto de saúde.
(...)
O Eucalipto não tem
predador natural. Os desertos verdes são ambientes sem vida, sem
água, sem natureza, sem o canto dos passarinhos. O eucalipto gera
desequilíbrios ecológicos (pois a natureza é viva e tentará se
adptar àquele meio inóspito!), como grandes pragas, que chegam a
afetar a produção agrícola das circunvizinhanças.
Violência não
resolve, submissão não resolve. A luta também não pode depender
de dinheiro, porque se falta dinheiro vamos desistir da luta? Negra Zeferina aprendeu
a guerrear com os tupinambás. Sempre quando estava para ter uma
guerra, se fazia muita farinha, para que ninguém passasse fome,
mesmo que passassem por outras necessidades. Os índios não podem
ficar dependendo de FUNAI para fazer as coisas. A FUNAI não funciona
e é feita para não funcionar.
O povo tem que ter
inserção nas questões públicas. Podemos fazer as coisas
localmente. Aquilo que é bem feito localmente e funciona, reverbera
em todos os lugares. Temos que ter uma renda
compatível para bancar a luta. É melhor se bancar. Não podemos
ficar dependendo de projeto.
Temos que revolucionar nosso querer, com garra e coragem. A força tem que ser canalizada. Temos que nos fortalecer e nos preparar para vencer. Temos que viabilizar uma forma de vida que não precise se vender, como uma espécie de corrupção. Se o movimento cuida dos seus, os seus não precisam pedir a outros, não precisam arrastar caneco e pedir esmolas.
A luta também não
pode depender do ódio. Tomar raiva de outra pessoa é coisa ruim que
se apossa de você. A luta não pode ser mantida pelo ódio, mas pelo
amor.
Na aldeia Tupinambá
não há alcoolismo, os companheiros não batem em suas companheiras
(violência doméstica) e pouquíssimos fumam, nós resolvemos nossos
próprios problemas, a partir da orientação dos encantados.
Dissemos às igrejas evangélicas que quiseram subir a Serra do
Padeiro: levem o culto para onde se precisa de Deus. Aqui nós temos Deus, temos nossa proteção, temos nossos encantados. A fé une o
povo.
Precisamos confiar
mais uns nos outros. A lógica imposta é de dividir para governar.
Colocar movimento contra movimento, povo contra povo. Lutar por terra
é lutar por poder. Não existe liberdade sem terra. Precisamos
traçar uma aliança pela terra. Terra não se ganha, terra se
conquista! Lutar é lutar, não é esperar que alguém seja sorteado.
No futuro, devemos fazer ações com mais radicalidade e compreensão.
(Transcrição da fala do Cacique Babau na tarde do dia 14 de Março de 2014. Colaboração Camila Antero/NEPPA )
(Transcrição da fala do Cacique Babau na tarde do dia 14 de Março de 2014. Colaboração Camila Antero/NEPPA )
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