sexta-feira, 21 de março de 2014

Somos tod@s Cacique Babau. Entenda porque refletindo trechos de sua fala...

Os Tupinambá expulsaram do território todos os que estavam ofendendo o meio-ambiente. Os que estavam pescando com venenos e acabando com a vida do rio, os que estavam incendiando a mata. A Escola Estadual Indígena Tupinambá da Serra do Padeiro conta com 663 alunos da aldeia e da região. Há 25 nascentes no território. Devido ao cuidado e ao reflorestamento por parte dos índios, o nível da água do rio subiu dois metros e meio. Se os rios secam, os peixes não se reproduzem. Os tupinambás, reflorestando áreas degradas, deixaram a serra intacta. Na serra a cadeia alimentar está completa. Há um equilíbrio, do qual a comunidade faz parte.

Os Tupinambás não gostam de ver as pessoas humilhadas. O governo queria autorizar apenas o atendimento de pacientes indígenas no posto de saúde. Significa que se qualquer pessoa não índia necessitasse de atendimento médico no território, não poderia ter acesso. Os tupinambás não se conformaram, lutaram e hoje qualquer pessoa pode ser atendida no posto de saúde.
(...)
O Eucalipto não tem predador natural. Os desertos verdes são ambientes sem vida, sem água, sem natureza, sem o canto dos passarinhos. O eucalipto gera desequilíbrios ecológicos (pois a natureza é viva e tentará se adptar àquele meio inóspito!), como grandes pragas, que chegam a afetar a produção agrícola das circunvizinhanças.
Violência não resolve, submissão não resolve. A luta também não pode depender de dinheiro, porque se falta dinheiro vamos desistir da luta? Negra Zeferina aprendeu a guerrear com os tupinambás. Sempre quando estava para ter uma guerra, se fazia muita farinha, para que ninguém passasse fome, mesmo que passassem por outras necessidades. Os índios não podem ficar dependendo de FUNAI para fazer as coisas. A FUNAI não funciona e é feita para não funcionar.
O povo tem que ter inserção nas questões públicas. Podemos fazer as coisas localmente. Aquilo que é bem feito localmente e funciona, reverbera em todos os lugares. Temos que ter uma renda compatível para bancar a luta. É melhor se bancar. Não podemos ficar dependendo de projeto. 

Temos que revolucionar nosso querer, com garra e coragem. A força tem que ser canalizada. Temos que nos fortalecer e nos preparar para vencer. Temos que viabilizar uma forma de vida que não precise se vender, como uma espécie de corrupção. Se o movimento cuida dos seus, os seus não precisam pedir a outros, não precisam arrastar caneco e pedir esmolas.
A luta também não pode depender do ódio. Tomar raiva de outra pessoa é coisa ruim que se apossa de você. A luta não pode ser mantida pelo ódio, mas pelo amor.
Na aldeia Tupinambá não há alcoolismo, os companheiros não batem em suas companheiras (violência doméstica) e pouquíssimos fumam, nós resolvemos nossos próprios problemas, a partir da orientação dos encantados. Dissemos às igrejas evangélicas que quiseram subir a Serra do Padeiro: levem o culto para onde se precisa de Deus. Aqui nós temos Deus, temos nossa proteção, temos nossos encantados. A fé une o povo.

Precisamos confiar mais uns nos outros. A lógica imposta é de dividir para governar. Colocar movimento contra movimento, povo contra povo. Lutar por terra é lutar por poder. Não existe liberdade sem terra. Precisamos traçar uma aliança pela terra. Terra não se ganha, terra se conquista! Lutar é lutar, não é esperar que alguém seja sorteado. No futuro, devemos fazer ações com mais radicalidade e compreensão.

(Transcrição da fala do Cacique Babau na tarde do dia 14 de Março de 2014. Colaboração Camila Antero/NEPPA )

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