A III Jornada de Agroecologia da Bahia começou nessa quinta-feira, dia 4. Aos poucos, mais assentados, quilombolas, indígenas, estudantes e movimentos sociais chegam ao Assentamento Terra Vista e se unem às atividades que seguem até o domingo, 7 de dezembro. O primeiro dia de evento teve como sustentação o acolhimento e o diálogo entre os diversos elos que compõem a Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica.
A Mística de Abertura abriu com o histórico da Jornada e da Teia, que inclui, desde 2012, vários trechos em comunidades tradicionais do Sul da Bahia, mobilizações com os tupinambás e a formação da Brigada Audiovisual. A mística ressaltou também a importância do movimento na luta pela liberdade das nossas sementes e da terra contra as grandes empresas do agronegócio. Após a mística, um representante de cada elo da Teia deu a saudação para o início da Jornada.
Joelson Ferreira, do Assentamento Terra Vista, trouxe para o debate uma posição clara para a realidade dos movimentos sociais no Brasil: “O país está dividido, todo mundo viu com as eleições desse ano. A burguesia sabe bem o seu lado. E é bom a gente ver que política tem lado. O nosso é a Agroecologia. Agroecologia é ciência, movimento e política”.
Mesa de Abertura
A cacique Maria Muniz (pataxó hã hã hãe) abriu a mesa de abertura com seus cânticos e torés de força. Com o tema Agroecologia, ciência, movimento e práticas para a transformação da sociedade, Fernanda, do NEPPA, mediou a mesa que iniciou com fala do Cacique Babau, conclamando a coletividade:
“Se não abrirem a porta, tupinambá vai arrombar. Hoje estamos guerreando para retomar nossas terras e viver. Mas temos um problema no Brasil que são as lutas isoladas. A Teia pode ser uma oportunidade de unir os movimentos em prol de uma luta unificada. Se recebemos boas notícias e voltamos para casa, estamos perdidos. A bancada ruralista aumentou ainda mais e a Dilma criou leis muito ruins, permitindo que o exército nos persiga. Ou a gente luta junto ou eles vão votar a PEC 215 e todas as outras que prejudicam o povo.”
Babau também questionou o modelo de educação das universidades que reproduzem a formação de mão-de-obra e ressaltou a educação como estratégia de luta. Falou ainda da urgência dos indígenas ocuparem lugares políticos de poder, pois estes, desde a constituição imperialista e da colonização do Brasil, são restritos. A própria FUNAI não permite que um indígena ocupe a sua presidência: “Precisamos de uma estratégia de transformação e ela tem que partir de nós”, ressaltou o cacique.
O argentino Pássaro, representante da Casa da Economia Solidária de Serra Grande, falou sobre a visão que os demais países da América Latina tem sobre o Brasil e de como nosso país é um território de rica biodiversidade ameaçada por empresas estrangeiras: “O Brasil representa uma liderança para a América Latina e precisa assumir essa responsabilidade”. Pássaro descreveu ainda experiências de outros países em prol da autonomia econômica e da libertação de editais de grandes empresas, como o modelo agroflorestal boliviano de produção familiar.
Quenia Barreto comentou sobre a expansão, consolidação e diversidade de povos que integram a Teia Agroecológica dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica na luta contra o sistema opressor: “É importante linkar o que fazemos com a espiritualidade”, concluiu. Após as falas, foram abertas as sessões de perguntas e debates.
O fim do primeiro dia de Jornada terminou com celebração, samba de roda e cantos na fogueira. Assim, abrimos oficialmente e devidamente a III Jornada de Agroecologia da Bahia!
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