de azeite de dendê.
A água do coco é doce,
eu também quero beber.”
Cerca de 300 indígenas de diversas aldeias deram início à IV Jornada de Agroecologia da Bahia com o ritual do fogo, conduzido pela mestra Maria Muniz (Maiá) e Cacique Nailton, da Reserva Indígena Pataxó Hã Hã Hãe - Caramuru Catarina-Paraguaçu. Após o ritual, foi realizada a Mística de Abertura com uma encenação do poema de Ademar Bogo, O Recado da Terra, que indica a necessidade de cuidar de Gaia para que seus filhos, homens, mulheres, pássaros, plantas, árvores e demais seres tenham uma perspectiva de vida comum.
“O que fizer à terra, fará com seus filhos, assim diz o Cacique.”
Logo em seguida, Joelson Ferreira, da Teia dos Povos e do Assentamento Terra Vista - MST, deu a saudação de boas-vindas a todos os Elos e participantes. Em sua mensagem, cumprimenta aos Indígenas, “verdadeiros donos da terra”, ao Povo Preto e aos companheir@s dos movimentos sociais que estão em luta pela defesa da Terra. Joelson lembrou também a importância da atuação do MST na Região Sul da Bahia, que há 23 anos mobiliza trabalhadores e agricultores na pauta pela reforma agrária, tendo o Terra Vista como primeiro assentamento no coração da região cacaueira. Finaliza as boas vindas agradecendo a tod@s @s participantes e frisando a importância do momento histórico que envolve a IV Jornada.
A Mesa de Abertura segue com a coordenação de Alda, do CIMI, e Nanda, do NEPPA, que convidaram um representante de cada elo e das diversas entidades presentes para o momento de saudação à plenária e breve apresentação de sua atuação na Teia, na Jornada e nos Territórios. Após as apresentações do Elos, Joelson Ferreira finaliza a Mesa com um breve histórico da Jornada, ressaltando os temas escolhidos conforme os objetivos e conjunturas vividas em cada ano. Nesta IV Jornada, o momento histórico que vivemos exige um aprofundamento na compreensão do que é Terra, Território e Poder:
“A humanidade vive um momento crucial. A cada dia que passa, vemos a natureza sendo estuprada e destruída pelo Capitalismo, que ameça nossas formas de vida. Sua principal arma é a propriedade privada da terra. Estamos diante de uma guerra que não fomos nós que criamos. Não há tempo para abaixarmos as cabeças ou ficarmos de braços cruzados. Precisamos fazer nossas estratégias de defesa da Mãe Terra, nos levantarmos e enfrentarmos essa guerra de frente. Por isso, é fundamental um momento como este, da IV Jornada, onde tantos povos estão reunidos. Cabe a nós fazer desta reunião um momento que avance para além da celebração, tornando-se esperança para a defesa da nossa Mãe, a Terra. Nós precisamos ter a coragem e o entendimento de que é a partir da terra que vamos avançar. Sem terra não há liberdade.” - Joelson Ferreira
Edith, do GeografAR (UFBA), lembrou que na construção de unidade é preciso ter paciência e cooperação: “Se você quiser ir rápido, vá sozinho. Se você quiser ir longe, vamos juntos”. Edlene puxou a saudação do NEPPA com uma música construída durante o Estágio Interdisciplinar de Vivência e Intervenção – EIVI, de 2014: “O grito de barretá ecoa além da morte. Índias e negros lutando ombro a ombro, braço forte. A luta não é só sua, a luta não é só minha, a luta é de todo o povo que resiste à tirania.”
“No momento onde tantos estão lutando por seu território, não haveria tema mais propício que esse. Me sinto honrada por estar nessa mesa e por poder falar desse assunto que está virando uma questão de vida ou morte. Falar de território é estar vulnerável à morte. Então a gente precisa aproveitar essa Teia para se fortalecer juntos. Nós precisamos ser uma voz, nós precisamos ser um corpo”, comenta Nádia Akauã, Tupinambá de Olivença, da Aldeia Tucum. Em sua fala, Nádia saudou seus ancestrais e relembrou as perdas de muitas parentes e parentas que morreram na luta em defesa de seu território. Nesse momento, Maria Muniz e Cacique Nailton acolheram a parenta e seu desabafo, com cânticos e orações.
Em sua fala, Cacique Nailton convocou a todos para o envolvimento na luta, em especial a juventude: “Guerreiro vem ver, guerreiro vem cá. Guerreiro vem ver sua luta como está. Oh guerreiro vem ver, oh guerreiro vem olhar.” Haroldo, do CIMI, trouxe uma análise do entendimento dos povos indígenas sobre a omissão e lentidão do Estado no processo de demarcação dos territórios: “O vermelho da bandeira da Bahia tem um significado muito ruim para os indígenas da Bahia. Esse vermelho significa morte. Precisamos travar esse sistema. Há um ditado mexicano que diz: “Eles nos enterraram, mas esqueceram que éramos sementes'. Essa semente está na hora de germinar”.
No final da Mesa, a Jornada foi saudada pela companheira Yashodã, da Comunidade Morada da Paz, do Rio Grande do Sul. Em sua primeira participação na Jornada, Yashodã afirmou que veio até a Bahia, em uma viagem de três dias, para selar essa integração entre os povos e os movimentos de resistência que atuam nesses territórios.
“O mundo está dividido em dois, os que tem fome os que tem medo dos que tem fome. Existe inferno? Sim. Existe o inferno de todo o dia, construído por nós mesmos. Mas existem apenas duas formas de sair do inferno. Se acostumar com ele e ser indiferente ou lutar contra ele”, comenta Yashodá que finaliza sua fala com um canto Yorubá: “Que o pássaro da verdade sobrevoe a nossa cabeça e que tenhamos força nos braços e o coração puro para sermos sementes da verdade”.
Estiveram presentes na mesa de abertura da IV Jornada de Agroecologia da Bahia:
Cacique Edvaldo – Pataxó,
Ana Dália – UNEB,
Valdo Cavalé – Profº UFLPR
Leonardo – Tele Sur,
Ajane – Sec. Trabalho Emprego e Esporte de Salvador
Yashodã – Morada da Paz do Rio Grande do Sul,
Cacique Nailton – Pataxó Hã Hã Hãe,
Nádia Akauã Tupinambá de Olivença,
Luciano Ferreira – CETA,
Silvana – Profª UFRB – Educação do Campo,
Edite – UFBA - GEOGRAFAR,
Valderli – CPT,
Alamo Pimentel – Profº UFSB,
Haroldo Heleno – CIMI,
Eulália – IFBaiano,
Durval – Inst. Cabruca,
Edlene – NEPPA,
Nara – Ocupação Mercado Sul Vive e NACER– DF
Carlos Borges – INCRA,
Vera Lucia – SEPROMI,
Alberto – Presidente do CIMA,
Amanda – Cáritas,
Zuza – MLT,
Rubens – Resex Caçurubá – Caravelas,
Zé Campo – CESOL,
Pássaro – Serra Grande,
Janira – Escola Agrícola Margarida Alves,
Felipe Estrela – AATR,
Iris Salazar – MCP – Feira de Santana,
Lanns Almeida – Sec. Agricultura – Itabuna,
Michela – MDA,
Valnei – MST,
Alexandre – Profº IFBA,
Joelson – Assentamento Terra Vista - MST.
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