O Território da Mata Atlântica é um grandioso ecossistema, que já foi responsável por quase 70% do PIB da Bahia. Tempos bons, maravilhosos, mas agora não podemos ficar presos à contemplação do passado. Como diz o poeta: “o passado é uma roupa velha que já não serve mais”. A região, outrora rica, hoje mergulha numa crise e na pobreza imensa, em todos os sentidos.
Estamos mergulhados num abismo de violência, prostituição e drogas que pouco a pouco mata nosso sonhos e nossa esperança. Como se não bastasse tudo isso, a região sofre um processo de destruição de seu patrimônio natural, até hoje guardado pelo cacau Cabruca. Em seu lugar, está sendo plantado o café canilon em larga escala, bem como o monocultivo de eucalipto com grande uso de agrotóxico. Sem falar que continua a prática da pecuária extensiva, numa ignorância sem tamanho. No norte do Espírito Santo, o café canilon já mostrou seu potêncial destrutivo. No Extremo Sul da Bahia, o deserto verde das grandes papeleiras só cresce, dando continuidade à produção de papel higiênico e outros tipos de papel. Aqui em nossa região, “o pé do boi” continua sendo um dos principais responsáveis pela devastação da biodiversidade em vários municípios.
Com a destruição da Biodiversidade, morre também as nascentes, os rios e os solos, pois perdem a proteção da cobertura da Mata Atlântica e da Cabruca que asseguravam toda fauna e flora. Assim, acabamos perdendo todas as nossas riquezas naturais.
Há ainda outra tragédia em curso: a dizimação e destruição dos povos indígenas e do povo negro remanescente dos Quilombos. A esses dois povos, não há outra saída senão lutar para retomar o seu território e recuperá-lo dessa monstruosa devastação. Aos pequenos e médios produtores, assentados da Reforma Agrária, os Ribeirinhos, as Juventudes do campo e da cidade, só nos resta a união em uma grande jornada de solidariedade e luta com os povos tradicionais. Primeiro, uma luta em defesa do grande território do cacau e da cabruca. Segundo, em defesa da terra para plantar e para morar. Por fim, para a construção de um grande projeto de desenvolvimento.
Quando se fala em toda essa destruição, alguns falam de que é o preço pelo desenvolvimento. Mas que desenvolvimento é esse que promove a destruição do meio ambiente, empobrecimento, violência, prostituição e tráfico de drogas? Um desenvolvimento que prega a urbanização desenfreada? Que promove a ideologia da desvalorização do local e adoração ao que vêm de fora?
O projeto de desenvolvimento que queremos precisa ter como princípio a Educação, a Agroecologia, a defesa da Biodiversidade, do cacau e do chocolate da Mata Atlântica. Para isso, é necessário, construir uma grande unidade dos povos dessa região, para recuperar 200 mil ha de Cacau Cabruca. Implantar 200 mil ha de sistemas agroflorestais para construir uma economia da Mata Atlântica que produza cosméticos, uma variedade grandiosa de remédios, perfumaria e uma infinidade de alimentos para garantimos a Segurança Alimentar e Nutricional de todos os seres humanos da região, bem como para todas as espécies de animais.
Precisamos também minimizar os impactos da pecuária, construindo no seu lugar uma bacia leiteira com os animais semi confinados e produzir bastante biomassa para alimento animal e energia renovável. Frear a monocultura do eucalipto, fazendo um grande zoneamento, bem como destinar parte desse eucalipto plantado para transformação em móveis e outra parte para construção civil, além de impedir novos plantios em outras áreas. Substituir o café canilon por um café com florestas, respeitando as nascentes e os rios. Impedir o uso de pesticidas e agrotóxicos, principalmente próximo à mata ciliar, aos rios e às nascentes.
Essas propostas vão proporcionar uma convivência harmoniosa com a natureza e, junto com as lindas praias que embelezam essa região, trabalharemos para a consolidação de rotas turísticas do cacau e do chocolate. Com uma forte indústria de base para agregar valor aos nossos produtos, construíremos uma economia capaz de empregar mais de 300 mil pessoas. Caberá à Educação a responsabilidade de sensibilizar a população e prepará-la para os próximos desafios, rumo à consolidação de um projeto de sustentabilidade inclusivo, com toda a população e todos os seres da natureza.
COM A COMIDA DAS DEUSAS E DOS DEUSES, CELEBRAREMOS COM UM BANQUETE O FUTURO DA NOSSA REGIÃO. VIVA MATA ATLÂNTICA, AO CACAU E AO CHOCOLATE!
Joelson Ferreira – Assentamento Terra Vista
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